segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

EL JABÁ NA CRISE: COMO VIVER E (NÃO) CONVIVER COM ELE

Alguém duvida que a Indústria fonográfica irá terminar sua travessia - pela primeira década do século XXI - com os piores índices de vendagens já registrados? É fato que atribuir culpados, a essa altura da Globalização, praticamente não remediará déficit algum; o mercado consumidor dispõe de inúmeros recursos para usufruir de música. Há cerca de quinze anos atrás, a única preocupação das grandes gravadoras eram, ainda, as fitas K7 “puras”, que conseguiam filtrar as canções de sucesso tocadas nas rádios... Os artistas e seus empresários primavam pela qualidade dos discos físicos em todos os quesitos possíveis (composição, arranjos, produção, divulgação e encarte), participando do processo incisivamente junto aos executivos das corporações majors e, não obstante, os seus selos musicais subsidiários.

Contudo, graças à viabilidade de se adquirir um microcomputador em nossos tempos, a Internet conseguiu se disseminar entre as atividades cotidianas da sociedade. E com a sua importância indiscutível, mesmo o fenômeno nocivo da Pirataria de CDS (“tendência” do setor terciário informal que perdura desde o fim da década de 90) perdeu o seu espaço nos fluxos da economia: A população opta em buscar o material de seus ídolos via programas de compartilhamento (os famosos “downloads”) de arquivos, cujo sistema simples permite, até para os mais leigos em tecnologia, acharmos aquele tema da novela ou o primeiro lugar das paradas atuais. Aliás, é possível encontrar a discografia dos grupos de rock mais infames que a crítica já mencionara. O significado de música infelizmente tornou-se, para muitos, um prazer rápido; Uma sensação abreviada... O curioso é vermos que o nome dos arquivos de áudio puxado da Internet também é abreviado (“mp3”)...
Para os poucos que ainda gostam de comprar CDS e/ou DVDS, as portas se fecham numa velocidade inacreditável: Algumas lojas que, outrora, obtinham um faturamento expressivo com a venda dos artigos fonográficos, já se vêem tendo de manter seus serviços relevar a parte lucrativa relacionada ao setor de CDS. O motivo é óbvio: Quase todos os estabelecimentos que operavam apenas pelo comércio musical vieram à falência nos últimos seis ou sete anos; As razões da minoria consumidora de álbuns - ligadas a laços sentimentais, éticos, tradicionais etc. – são esmagadas pelo desinteresse de uma fatia correspondente a uns 80% da População Economicamente Ativa. Mas será apenas o fator “custo-benefício” que bloqueia o contato das massas com as mídias sonoras originais?


Sobretudo, fica mais conveniente se analisar, por hora, a redução da produção fonográfica pelos aspectos de marketing inerentes ao “cast” (o elenco de cantores e conjuntos) que as pertencem; a par dos tópicos jurídicos, que envolvem a Internet com crimes contra direitos autorais de músicos e outras burocracias: Uma vez que a Indústria está viva, devemos checar a conjuntura atual com olhos otimistas; enxergando um meio acessível tanto aos distribuidores quanto aos fornecedores: O exercício do apreço pela música aos seus clientes.

Afinal de contas, a Música é a forma de arte/expressão mais popular entre os seres humanos e, ultimamente, é perceptível a grande dimensão que outros tipos de Mídia (em especial, a impressa e a televisiva) dão à vida pessoal dos artistas mais conhecidos do país e do mundo; muitas vezes, o que o músico/intérprete produz em seu trabalho é ofuscado por algum escândalo, boato ou seus conflitos amorosos... Embora as estações de rádio na ativa ainda foquem no som acima de tudo, seus esforços de contribuir com as gravadoras não são mais tão efetivos; talvez seja pela “exploração da imagem” ou “exploração da música de trabalho"... Isso virá ao caso agora. Aqui neste blog.

Hoje, mensurar os valores do jabá é uma prática corriqueira entre as estações de rádio e as emissoras de TV. Os conceitos de qualidade e de quantidade musical caíram vertiginosamente, convergindo com os lucros da Indústria... Se o indivíduo dispôr de um empresário sagaz e um contrato com uma major, nem é necessário que ele tenha algum talento como compositor, com instrumentos ou um bom vocal; "manda a música de trabalho do(a) moço(a) embaixo de uma graninha que a gente toca!"


O nicho musical brasileiro hoje aparenta, aos olhos da massa, estar limitado apenas a nove ou dez nomes apenas (Não preciso dar nome aos bois: Basta lembrar aos caros leitores que duas cantoras, presentes nessa margem, possuem um timbre quase idêntico e tiveram bebês há pouco tempo hehehe). Ledo engano: Até mesmo o roqueiro mais underground ("peraí, eu?") reconhece a versatilidade da música nacional e como ela agrega artistas de excelência ímpar. O Repente da região Norte prova isso; O Manguebeat de Recife também... O sertanejo (DE RAÍZ! Não os fakes que vão nos programas domnicais bizarros, na nossa irritante TV aberta) do Centro-Oeste, a própria MPB (por favor, não confundir com Ana Carolina ou Maria Gadu) tem seus momentos de dignidade... Mas o jabá anula as possibilidades dos grandes conjuntos e intérpretes independentes de obterem um espaço de exposição justo; de exibirem parte de suas canções (ênfase em "SUA"; convenhamos que o teen/dance/soap opera pop atual em termos de sonoridade... Está alienado e padronizado, igual a maioria dos seus adoradores) e deixar que a audiência pondere sobre o que vale a pena curtir, que tipo de música lhes é valiosa e tudo o mais.


A sentença "Esterotipar não é legal" perde seu sentido quando o Jabá é efetuado: O pagodeiro geralmente é o cara mais bipolar da sua turma (o "Garanhão" para os amigos e o "fofinho" para as amigas); o axézeiro (Não resisto: hauahuahauha!!) é a pessoa com dificuldade de sustentar um namoro duradoro e acha no axé o som ideal para a ficação/fornicação, naquela efêmera sensação de felicidade; o funkeiro não gosta de falar muito (até sete palavras de uma vez, só) e sim de tocar o batidão possante alto, o reggaeiro bem... Precisa informar? E o roqueiro seria o desordeiro que usa preto e não quer absolutamente nada com a vida... Sim, faltam mais estilos; A estratégia das gravadoras parece desejar a uniformidade destas vertentes nos fatores seminais de um hit das paradas - refrão grudento + áudio instrumental vago/ lento/bem baixo + rostinho bonito - e produzir um ídolo periódico, não importando o conteúdo de seus CDS ou da massa encefálica de seus futuros fãs. Será que só os roqueiros que vêem alguma coisa errada nisso?


As pessoas precisam voltar a respirar música atráves das mídias, pois ela é um catalisador essencial para a expansão dos horizontes. Quiçá, se o povo vier a escutar a canção que “curte”; e após a execução dela, ouvir informações relevantes sobre o disco que a tal faixa ajuda a constituir, ele possa criar um gosto pela obra musical concreta. Além do mais, as versões acústicas dos sucessos das bandinhas de poprock fraldinha é a maior característica do Jabá nas rádios... Porque os leitores não sugerem a sua estação favorita a dar espaço ao mendigo violonista da Praça ou a banda que animou na sexta a festa do seu vizinho, por exemplo?
A Internet pode ser fonte de pesquisa de QUALQUER ASSUNTO.


Claro que a tendência sempre é martelar em nossa audição os hits (principalmente os da "Gringa") atuais. Contudo todas as vertentes e tempos musicais devem ser levados em conta nas nossas escolhas; dos clássicos até os contemporâneos, do Blues até o Dance pop e da Bossa Nova até o Forró. Demonstrar a diversidade da arte dos sons a todos os ouvidos, certamente, tornar-se-á uma experiência edificante para todas as classes sociais, cores, credos, pedigrees e times de futebol dispersos (literalmente) pelo Brasil; Amantes da Cultura, mas sem disposição para conhecer novos - e reconhecer os velhos -estilos musicais. Se o jabá e a Indústria Fonográfica terá sobrevida? Quem sabe... Ou quem duvida?

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