CAPÍTULO 3
UM ANJO FORA DE HORA
Ver a Youkoloko fixa no mesmo espaço de sempre, por uma distância de quase cinco metros, largou um amplo sorriso amarelo na face de Moses; Queria dizer que tudo vivenciado nas últimas horas era uma experiência mais do que real. Se para a maioria das pessoas com a faixa etária do Youko beijar um (a) desconhecido (a) seria a ação mais natural, - no código de ética das baladas - o ataque fulminante daquela moça com olhinhos mirrados e atitude poderosa era interpretado pela “vítima” como uma chance divina. Uma ressurreição espiritual após três tortuosos anos “de mal” com o Amor e seus departamentos anexos.
Trinta e seis meses de inexplicável e imensurável desilusão intrapessoal; Moses, antes de libertar os pés dos sapatos e (empoeirados com a “aventura” noturna), sentou na cama tomado pelo assombro, em vez de sossego. Submetido a um impulso cerebral opressor, como se estivesse incorporado, o rapaz supersonicamente projetou sua cabeça para frente e a segurou com ambas as mãos. Impedindo qualquer seqüência de acontecimentos chocantes, ele pôs-se a chorar, estatelado na cama. Sua mente estava rachada: Entre a garota ladra de ósculos e Ruby. Motivos condutores dessas lágrimas seriam somente dois... Junho fora o mês da morte da senhorita Locke – era a causa factual da “depressão aguda periódica” de Moses – e o quadro dela situado no fim do corredor, na parede defronte às escadas. A ausência dela, todo o tempo, foi pesada demais para o coração do Youko suportar. Talvez, o choro serviu como ”medida de alerta” do seu organismo para demonstrar alívio; a menina beijoqueira desconhecida mexeu com Moses para valer. Ele preparou-se para dormir só após de certificar-se 1000% que tudo não era sonho (pondo em contato uma pedra de gelo com suas costas). Satisfeito, a cama foi ocupada e o seu sono imediato.
Obcecado ou não, desde que a boca da menina desgrudou-se da dele, Debiega veio para casa escutando barulhos esquisitos e dissonantes, uma fusão feita por sussurros silábicos de um bebê adormecido com uma viola desafinada sendo dedilhada. À medida que Moses ia andando nas ruas, o barulho ficava melhor “produzido”, se ele pudesse descobrir à raiz daquela sonoridade chata... Será? Moses não faria mais nada na loja àquela hora da noite; o jantar na casa dos Codi tinha sido além das (nulas) expectativas e eliminar o tal ruído seria um bem danado aos seus tímpanos – já poupados de acompanharem o som “irado” da Banda Sinopse horas atrás, na Praça Rozendo. Resolvido: o veterinário caçaria a origem do problema.
Bastava saber a rua onde o volume estava maior... Era ao seu sudoeste; Moses deu um giro de 405º (uma volta completa para procurar e mais 45º para confirmar!) e avançou como um maratonista. Numa postura de “atleta de Cooper”, Moses deu de cara com uma alameda repleta de galpões abandonados... Pronto. Um legítimo cenário de filmes estrangeiros de suspense; um ambiente clichê garantido em qualquer final de ficções mal-resolvidas. O Youko não podia parar, porque sua barriga iniciara um tremelique digno de vexame (se estivesse ao lado de Yosef ou outro colega); tendo absoluta certeza de que não estava com fome, acharia o emissor daquele barulho e veria se, enforcando-o ou desligando a caixa acústica, suas orelhas e sua barriga encontrariam paz.
- SUA BARRIGA ESTÁ TREMENDO DE RECEIO...
O quê? De onde veio, para onde foi? Moses ficou consternado em um “clique” de uma voz que soou em todo o prédio-galpão que havia entrado; Gingou de um lado para o outro e nenhum feedback agressor ou amplamente assustador. “Receio”? Porque não medo? Agora sim, o rapaz sentia-se em maus lençóis! E o pavor de ácaro herdado de sua infância não faria nem cócegas em Moses, no momento em que subiu a área espaçosa do edifício... Algo que corresponderia a uma boa garagem, se aquele galpão ainda fosse ativo:
A figura pálida de Ruby Locke flutuava sobre a franja de Debiega. Adornada com um casco de cágado, asas de cisne e cheiro de carvalho.
- RUB!... RUB!... RUBY! Morte... Morta... Não... Existe!
Faltou só a cambalhota para Moses ganhar matrícula gratuita na Escola de Palhaços: A rodada desengonçada, a fim de fugir, o fez entrelaçar os tornozelos e “virar estrela” com a ponta dos dedos! Ruby acabou por bloquear (?) sua passagem para as escadas preocupada:
- Nossa! Tome cuidado! Não machucou seus dedos agora? – Moses viu o rosto de sua amada igualzinho a uma bomba de gargalhadas, com pavio fino.
- Sai... Sai daqui... Ninguém me engana... Isso está fora da realidade! Por favor, não mexa com a... Ruby... – O frio imperou na pele de Moses a partir daquelas palavras; no caso do fantasma de Locke estar ali mesmo, ele se considerou semimorto por algumas respirações. Até que Ruby encostou (??) sua mão no ventre dele e o sarou; em seguida, repetiu a ação nas orelhas.
- Eu só queria falar com você outra vez, Moses. Fui imprudente e morri tão depressa... Mas se soubesse que você ia ficar tão aterrorizado, eu nunca...
Já que o anjo falou, Moses, lamentavelmente – a partir do que Jeon haveria lhe dito - sentiu-se um covarde mesmo. Ter apenas “receio” seria uma boa... Entretanto todo aquele papelão, perante a presença sobrenatural de Ruby, evidenciou uma dedução de suma importância: O garoto ainda nutria um sentimento poderoso pela falecida; cuja adquirida carapaça de tartaruga acentuava mais as suas curvas! A julgar pela visão incrédula de Moses:
- Nem adianta levantar suas mãos e tentar me apalpar: Eu morri completamente!
- Co... Co... Como assim, Ruby? Não sei onde estou ou o que aconteceu para nós estarmos aqui, mas isso é obra do destino! Eu a vejo aqui agora, e... É como se o tudo e o nada perdessem o sentido para mim! Podemos ficar aqui juntos nesse prédio acabado eternamente!
O Youko exclamara todos os períodos chorando estuários... Nem ele e muito menos Ruby tinham condições de emendar a conversa após o desencontro das faces e das condutas: Enquanto Moses desabava sobre seus joelhos com as mãos no chão, arfando, Ruby voava para trás dele; sincronizando o peso do casco com a magnitude das asas numa coreografia desajustada.
- Quando disse que eu morri completamente, é completamente, Mô... Agora que estamos nos revendo, você poderá voltar a viver cem por cento, certo? – Locke estava muito calma; nada havia mudado desde o seu último dia viva.
- O quê você está falando, Ruby? Você está brilhando diante da minha cara, está cheirando ao carvalho onde adorávamos ficar e, o mais legal, eu creio que voltei a viver porque...
- Por causa daquela garota na Praça. Eu vi e sei tudo, amor... Sabe, há alguns mortos muito espirituosos... Mas só alguns. Rereré! – e Ruby escancarou o seu riso.
A risada cheia de sinceridade continuava imutável! Moses ficou maravilhado de vez com o espectro - metade réptil e metade santa - da ex-namorada. Ela tomou conhecimento da garota e do beijo; a temperatura no lugar esfriou e o clima de ciúmes foi induzido a aparecer. Apenas induzido:
- Essa menina, amor... Essa menina... Veio lhe presentear com um novo e diferente horizonte. Tenha fé que, daqui para frente, seu coração baterá mais rápido e sua mente se abrirá horizontalmente. Resumindo o nosso drama: Está livre de mim de forma oficial. Reré!
O cara que correu vários metros, subiu escadas de um edifício-galpão lúgubre e vinha com um incômodo horrível nos ouvidos, encontrou o espírito de sua namorada dando-lhe uma carta de alforria? Aquele dia foi fechado com chave de platina! Contudo Moses nem se importava em saber onde estaria a fechadura; Ruby e ele... Ele precisava dela.
- Perdoe-me, Ruby... Desculpe-me, amor... Eu estou em dívida imortal com você, e... Meu Deus, como eu fui ser tão burro daquela maneira?... – Moses Debiega ensaiou a choradeira novamente. O papo “arrependimento” conseguiu sobrepor à alegria apática no rosto de Ruby; a moça ficara séria.
- Esqueça isso! Esqueça-me! Esqueça tudo do... Do passado. Memórias apenas decoram museus e melhoram debates, a Youkoloko graças a Deus está em plena atividade! Por que você precisaria de uma namorada-fantasma, Moses? Eu estou com uma casa de tartaruga nas costas! – E Ruby socou – de leve – a “rocha” onde suas penas de cisne estavam fincadas.
- É... Amor, isso é um casco de cágado... Eles parecem cogumelos; o das tartarugas de água salgada tem um desenho mais poligonal.
- Rereré! Tá bom! Você não muda seu jeito corretivo, querido.
Ouvir o “Querido” foi a música mais doce que Moses já apreciou; no que ele avançou em um passo, disposto a tocar em Ruby, ela simplesmente esquivou-se com um movimento de cabelos pretos. De qualquer modo, Moses iria catar um punhado de vento.
- Não repita isso... Não se canse por algo impossível. Volte a ser racional, Moses! Confesse que nunca me amou tanto quanto eu amei você.
- Errado.
- Como é?
Até a casco de cágado pareceu ter oscilado da posição quando a “ensolarada” Ruby captou a resposta do Youko; ele disse com convicção, olhando nos olhos sem piscar e com a voz reta. Locke parou de flutuar e desceu ao chão (???).
- Eu sempre precisei mais de você do que ao contrário, Ruby... Você foi o primeiro ser vivo a ter uma afinidade inquestionável comigo, a única pessoa capaz de quebrar a coluna (apontando para o casco) a fim de tentar compreender as minhas palavras... A pessoa que me motivou a trabalhar a cada dia mais, a fim de tornar-me apto a cuidar dos negócios do meu pai... Sem sua existência aqui, Ruby... Eu seria... Um mísero holograma na Terra.
- Idiota! Que é isso de holograma?... Você é um homem especial, eu sem você é que seria uma tragédia... Amor, sem você eu jamais aprenderia a viver, a sair de casa! O Sol me ofuscava, não é? Você me valorizava e é exatamente isso que não tem preço. – Ruby falara como alguém de garganta engrolada; lacrimejando.
- Resumindo o nosso drama: Você era insegura e eu incompetente. Nós nos completamos, Ruby. Só que autoconfiança se ganha através de um erro, e o senso de competência através... Através... De um desastre.
Moses voltou a prostrar-se de joelhos; ele devia notar que Ruby odiava esta postura:
- Eu... Eu entendo... Saiba que eu sempre estarei olhando você também, amor... Meus pais ainda não guardam boas recordações de você, mas... Viva a sua vida vislumbrando uma nova Era. Está certo?
- Ruby... Por que essa carapaça de cágado nas costas?
- Eu não fui santinha aqui na Terra... Então, essa carapaça eu recebi como uma penitência em nome dos humanos vivos que maltratam a Natureza ou agridem a biodiversidade... Não se preocupe, as asas dão muito conforto na mobilidade, e o peso dela não é t...
Moses voou com os seus lábios na direção da boca de Ruby. Caiu de queixo no chão e a alma jovem ficou sem fala.
- Que beijo roubado mais furado! Rerereré! Um ladrão assim ia preso sem levar nada!
- Vamos passar essa noite juntos; aqui, nós dois... Ruby... Por favor. – Moses já estava com “chatice de bêbado” praticamente.
- Quanta teimosia, Mô! Eu não disse a você que a garota da Praça deve ser sua prioridade? Se quer uma mulher nesse momento, ache uma viva... Que tal a Sabrina?
- Deixa de bobagem, Ruby...
- Puxa, eu poderia trazê-la aqui...
- É sério?
- Sim. Mas você teria que esperar aqui enquanto eu irei voando...
- Não. Eu vou com você a todo lugar. Não quero te perder de vista mais.
Era constrangedora a posição que Moses adotou: Caiu de quatro no chão e, engatinhando, quis agarrar as pernas de Ruby (ali, apenas panos da saia “de luz” dela). Ela nem se lembrava de tanta vassalagem amorosa durante o relacionamento.
- Sabrina... Ela não é garota para mim, nunca foi e nunca será... Eu não alimento vaidades ou... E você sabe bem disso. Ela não chega aos seus calcanhares para mim, Ruby.
- E como fica a menina ladra de ósculos?
A quase garagem do galpão teve parte da luz sugada pelo vácuo; Mas Moses estava indiferente a sua proximidade atual da Terra ou mesmo de algum buraco negro. Uma decisão deve ser tomada:
- Ela ficará mal: É óbvio que eu gosto mais de você! E mais, se eu morresse aqui e agora, ficaria do seu lado para sempre e sempre!
Ruby agitou os punhos e preparou a sua direita para um tapa. Moses, instintivamente, andou para trás pondo as mãos estendidas protegendo seu rosto; porém ambos perceberam que, se ele não podia tocar num anjo, o inverso também valia.
- Você jamais diga isso de novo também. Senão eu vou te amaldiçoar ou sei lá o quê... Por favor, não fale isso de novo. Tu és muito importante para o nosso mundo! Você poderá desequilibrar na reconstrução da nossa sociedade... Eu vejo um futuro muito brilhante seu... Que não está somente baseado na Medicina Veterinária: Acredite em mim e, principalmente, em você.
- Você vê um futuro?... Hahahaha! Você ganhou mesmo superpoderes?! Demais! Então anjos podem conjurar ou buscar qualquer pessoa, prevê futuros e cheiram as árvores de carvalho. Eu sou o dono de um centro veterinário chamado Youkoloko, Ruby... No quê eu vou servir para a revolução da sociedade?...
- Em primeiro lugar, “superpoderes” (Ruby “aspeou” a cabeça com os dedos) é um termo muito exagerado... Na verdade, eu só consigo executar um truque dito inimaginável:
Locke juntou as palmas de suas mãos, forçou as expressões da face como um indivíduo que acha um banheiro após devorar alguns bombons, e ofereceu a Moses uma casquinha de baunilha! Moses lambeu o creme antes de ficar chocado... Pela reação, achou uma delícia.
- Por que... Por que... Sorvetes?
- Porque eles estão bastante ligados a minha felicidade terrena. Esqueceu que eu adorava? Eu devo ter outras habilidades... Meu problema com a luz pode me permitir manipular sombras ou algo assim... Mas ainda não desenvolvi; cheguei muito nova lá... Pouco sábia...
- Eu não quero te deixar agora, Ruby!
- Deixe de pieguice... Ela não faz o seu estilo. Sua juventude irá acabar juridicamente daqui a poucos dias, entende? O dia 19 de junho já está chegando, e... Você deve aproveitar esses próximos dias de “liberdade juvenil” para checar o que o levará a viagens de verdade. Experimente delírios! Faça o improvável! Não use a função conativa com os outros! Viva, amor.
- Deixa de ser sistemática... Ela me faz enlouquecer por você! Dia 19 é... É... Maldição! É mesmo o meu dia! Você sabe, eu perco o rumo por causa da culpa justo nestas desgraçadas 24 horas... Meu desejo era só... Pedir-te perdão!
Ruby não segurou o choro e sua face bem esculpida começou a parecer bem úmida. Iria ser difícil para ela separar-se de vez então; mas um dever era um dever para vivos, mortos, anjos e cágados.
- Pelo poder em mim investido, lhe declaro perdoado... Tenha um feliz aniversário adiantado.
-... Só isso?
- Eu estarei enchendo o seu saco sempre que puder... Encontre-me abaixo da sua estrela, amor. - Ruby Locke virou e aproximou-se da vidraça grande de vidro, na parede do galpão. Cabisbaixa.
Moses se deu o trabalho de gritar, mas sua voz se perdera; Nem uma dor latente a sua garganta tinha... Deixando-o mais angustiado ainda. Por que parara de sofrer após o perdão aceito por Ruby?
Tanto faz... O sonho se acabara e o Youko piscou os olhos, enxergando o teto vazio de seu quarto. Toda a lembrança do ocorrido grudou na sua mente e tudo indicava que lá iria permanecer, até a data do vencimento de sua vida. Ruby estava no céu manuseando sorvetes? Ruby flutuaria pelos corredores da YL com uma carapaça de cágado? Jamais Aizaiah ou Yosef seriam privilegiados com a trama desse sonho, pois era maluquice... Até o paladar e o tato estavam envolvidos na maluquice; E configurava no senso comum – em algum parágrafo rasurado da Constituição universal Humana - que nenhum dos cinco sentidos aparecia durante nosso caminho pelos abismos do sono. Pois bem, a “Assembléia Constituinte” poderia rever seus conceitos ou agendar uma reunião com o Amor.
O corpo cansado de Moses apenas aumentou seu grau de fadiga; aquele sonho fatiou a sua “carcaça” e a parte reacionária de seu cérebro... Mas o seu coração mantinha-se batendo forte, pulsando constante... Ele imaginou que, no mínimo, o músculo ficaria “suado”, porque sentia uma comichão atípica na área esquerda do peito. Embora um pouco preocupado, estava bem contente... Estava vivo indubitamente, com todas as letras. E maquinava já as suas atitudes para o Sol que ia raiar dentro de uns minutos: Reuniria informações sobre todas as garotas “forasteiras” que estavam no Evento da Praça Rozendo; daria um jeito de rever a garota e conquistá-la. Afinal, Ruby surgiu e falou dela sorrindo! Sem ressentimentos! Se fosse preciso pedir desculpas para Win... A substituiria por: ”por favor, cara, ajude-me!”: o pedante geralmente falhava com ele... Win relevaria qualquer revelia também.
Colaborar com a mudança na sociedade... E “aquilo” pode ser mudado? Quem ajudaria Moses a colaborar... Além de Aizaiah? O veterinário só tinha certeza de uma coisa: No momento em que pegasse o paradeiro da ladra de beijos, ficaria íntimo de uma outra realidade... Sem máscaras e sem carapuças; E claro que não sabia se explicar corretamente por quê. A reflexão mais lúcida de Moses foi: O início do caos estaria em pauta assim como a gênese da Revolução.
Conclusão boba. Trivial. Pouca Ruby no raciocínio.
- Vou pegar um copo de água. – falou sozinho o garoto.
Dando de cara com o corredor, Moses avistou o quadro de Ruby como de praxe. Sim, não estava mais iluminado ou mais trevoso que antes... Sinal que a lenda dos “sonhos com espíritos” tinha sua porcentagem de balela. Todavia, no retorno do trajeto cozinha-quarto, ele parou e deu um zoom no picolé de Ruby: Visivelmente havia mais pingos escorrendo do gelo industrializado do que Moses nunca contara. O tempo passou rápido... E o Amor não o temia de jeito nenhum. Os homens poderiam aprender muito com o Amor se a reunião excepcional da Assembléia se tornasse realidade. Mas, fortuitamente, os donos da ética dormiam embaixo da terra agora e todos os departamentos de atendimento do Amor eram inimigos pacifistas da Burocracia.
Quer dizer... A filha bastarda do Tempo.
UM ANJO FORA DE HORA
Ver a Youkoloko fixa no mesmo espaço de sempre, por uma distância de quase cinco metros, largou um amplo sorriso amarelo na face de Moses; Queria dizer que tudo vivenciado nas últimas horas era uma experiência mais do que real. Se para a maioria das pessoas com a faixa etária do Youko beijar um (a) desconhecido (a) seria a ação mais natural, - no código de ética das baladas - o ataque fulminante daquela moça com olhinhos mirrados e atitude poderosa era interpretado pela “vítima” como uma chance divina. Uma ressurreição espiritual após três tortuosos anos “de mal” com o Amor e seus departamentos anexos.
Trinta e seis meses de inexplicável e imensurável desilusão intrapessoal; Moses, antes de libertar os pés dos sapatos e (empoeirados com a “aventura” noturna), sentou na cama tomado pelo assombro, em vez de sossego. Submetido a um impulso cerebral opressor, como se estivesse incorporado, o rapaz supersonicamente projetou sua cabeça para frente e a segurou com ambas as mãos. Impedindo qualquer seqüência de acontecimentos chocantes, ele pôs-se a chorar, estatelado na cama. Sua mente estava rachada: Entre a garota ladra de ósculos e Ruby. Motivos condutores dessas lágrimas seriam somente dois... Junho fora o mês da morte da senhorita Locke – era a causa factual da “depressão aguda periódica” de Moses – e o quadro dela situado no fim do corredor, na parede defronte às escadas. A ausência dela, todo o tempo, foi pesada demais para o coração do Youko suportar. Talvez, o choro serviu como ”medida de alerta” do seu organismo para demonstrar alívio; a menina beijoqueira desconhecida mexeu com Moses para valer. Ele preparou-se para dormir só após de certificar-se 1000% que tudo não era sonho (pondo em contato uma pedra de gelo com suas costas). Satisfeito, a cama foi ocupada e o seu sono imediato.
Obcecado ou não, desde que a boca da menina desgrudou-se da dele, Debiega veio para casa escutando barulhos esquisitos e dissonantes, uma fusão feita por sussurros silábicos de um bebê adormecido com uma viola desafinada sendo dedilhada. À medida que Moses ia andando nas ruas, o barulho ficava melhor “produzido”, se ele pudesse descobrir à raiz daquela sonoridade chata... Será? Moses não faria mais nada na loja àquela hora da noite; o jantar na casa dos Codi tinha sido além das (nulas) expectativas e eliminar o tal ruído seria um bem danado aos seus tímpanos – já poupados de acompanharem o som “irado” da Banda Sinopse horas atrás, na Praça Rozendo. Resolvido: o veterinário caçaria a origem do problema.
Bastava saber a rua onde o volume estava maior... Era ao seu sudoeste; Moses deu um giro de 405º (uma volta completa para procurar e mais 45º para confirmar!) e avançou como um maratonista. Numa postura de “atleta de Cooper”, Moses deu de cara com uma alameda repleta de galpões abandonados... Pronto. Um legítimo cenário de filmes estrangeiros de suspense; um ambiente clichê garantido em qualquer final de ficções mal-resolvidas. O Youko não podia parar, porque sua barriga iniciara um tremelique digno de vexame (se estivesse ao lado de Yosef ou outro colega); tendo absoluta certeza de que não estava com fome, acharia o emissor daquele barulho e veria se, enforcando-o ou desligando a caixa acústica, suas orelhas e sua barriga encontrariam paz.
- SUA BARRIGA ESTÁ TREMENDO DE RECEIO...
O quê? De onde veio, para onde foi? Moses ficou consternado em um “clique” de uma voz que soou em todo o prédio-galpão que havia entrado; Gingou de um lado para o outro e nenhum feedback agressor ou amplamente assustador. “Receio”? Porque não medo? Agora sim, o rapaz sentia-se em maus lençóis! E o pavor de ácaro herdado de sua infância não faria nem cócegas em Moses, no momento em que subiu a área espaçosa do edifício... Algo que corresponderia a uma boa garagem, se aquele galpão ainda fosse ativo:
A figura pálida de Ruby Locke flutuava sobre a franja de Debiega. Adornada com um casco de cágado, asas de cisne e cheiro de carvalho.
- RUB!... RUB!... RUBY! Morte... Morta... Não... Existe!
Faltou só a cambalhota para Moses ganhar matrícula gratuita na Escola de Palhaços: A rodada desengonçada, a fim de fugir, o fez entrelaçar os tornozelos e “virar estrela” com a ponta dos dedos! Ruby acabou por bloquear (?) sua passagem para as escadas preocupada:
- Nossa! Tome cuidado! Não machucou seus dedos agora? – Moses viu o rosto de sua amada igualzinho a uma bomba de gargalhadas, com pavio fino.
- Sai... Sai daqui... Ninguém me engana... Isso está fora da realidade! Por favor, não mexa com a... Ruby... – O frio imperou na pele de Moses a partir daquelas palavras; no caso do fantasma de Locke estar ali mesmo, ele se considerou semimorto por algumas respirações. Até que Ruby encostou (??) sua mão no ventre dele e o sarou; em seguida, repetiu a ação nas orelhas.
- Eu só queria falar com você outra vez, Moses. Fui imprudente e morri tão depressa... Mas se soubesse que você ia ficar tão aterrorizado, eu nunca...
Já que o anjo falou, Moses, lamentavelmente – a partir do que Jeon haveria lhe dito - sentiu-se um covarde mesmo. Ter apenas “receio” seria uma boa... Entretanto todo aquele papelão, perante a presença sobrenatural de Ruby, evidenciou uma dedução de suma importância: O garoto ainda nutria um sentimento poderoso pela falecida; cuja adquirida carapaça de tartaruga acentuava mais as suas curvas! A julgar pela visão incrédula de Moses:
- Nem adianta levantar suas mãos e tentar me apalpar: Eu morri completamente!
- Co... Co... Como assim, Ruby? Não sei onde estou ou o que aconteceu para nós estarmos aqui, mas isso é obra do destino! Eu a vejo aqui agora, e... É como se o tudo e o nada perdessem o sentido para mim! Podemos ficar aqui juntos nesse prédio acabado eternamente!
O Youko exclamara todos os períodos chorando estuários... Nem ele e muito menos Ruby tinham condições de emendar a conversa após o desencontro das faces e das condutas: Enquanto Moses desabava sobre seus joelhos com as mãos no chão, arfando, Ruby voava para trás dele; sincronizando o peso do casco com a magnitude das asas numa coreografia desajustada.
- Quando disse que eu morri completamente, é completamente, Mô... Agora que estamos nos revendo, você poderá voltar a viver cem por cento, certo? – Locke estava muito calma; nada havia mudado desde o seu último dia viva.
- O quê você está falando, Ruby? Você está brilhando diante da minha cara, está cheirando ao carvalho onde adorávamos ficar e, o mais legal, eu creio que voltei a viver porque...
- Por causa daquela garota na Praça. Eu vi e sei tudo, amor... Sabe, há alguns mortos muito espirituosos... Mas só alguns. Rereré! – e Ruby escancarou o seu riso.
A risada cheia de sinceridade continuava imutável! Moses ficou maravilhado de vez com o espectro - metade réptil e metade santa - da ex-namorada. Ela tomou conhecimento da garota e do beijo; a temperatura no lugar esfriou e o clima de ciúmes foi induzido a aparecer. Apenas induzido:
- Essa menina, amor... Essa menina... Veio lhe presentear com um novo e diferente horizonte. Tenha fé que, daqui para frente, seu coração baterá mais rápido e sua mente se abrirá horizontalmente. Resumindo o nosso drama: Está livre de mim de forma oficial. Reré!
O cara que correu vários metros, subiu escadas de um edifício-galpão lúgubre e vinha com um incômodo horrível nos ouvidos, encontrou o espírito de sua namorada dando-lhe uma carta de alforria? Aquele dia foi fechado com chave de platina! Contudo Moses nem se importava em saber onde estaria a fechadura; Ruby e ele... Ele precisava dela.
- Perdoe-me, Ruby... Desculpe-me, amor... Eu estou em dívida imortal com você, e... Meu Deus, como eu fui ser tão burro daquela maneira?... – Moses Debiega ensaiou a choradeira novamente. O papo “arrependimento” conseguiu sobrepor à alegria apática no rosto de Ruby; a moça ficara séria.
- Esqueça isso! Esqueça-me! Esqueça tudo do... Do passado. Memórias apenas decoram museus e melhoram debates, a Youkoloko graças a Deus está em plena atividade! Por que você precisaria de uma namorada-fantasma, Moses? Eu estou com uma casa de tartaruga nas costas! – E Ruby socou – de leve – a “rocha” onde suas penas de cisne estavam fincadas.
- É... Amor, isso é um casco de cágado... Eles parecem cogumelos; o das tartarugas de água salgada tem um desenho mais poligonal.
- Rereré! Tá bom! Você não muda seu jeito corretivo, querido.
Ouvir o “Querido” foi a música mais doce que Moses já apreciou; no que ele avançou em um passo, disposto a tocar em Ruby, ela simplesmente esquivou-se com um movimento de cabelos pretos. De qualquer modo, Moses iria catar um punhado de vento.
- Não repita isso... Não se canse por algo impossível. Volte a ser racional, Moses! Confesse que nunca me amou tanto quanto eu amei você.
- Errado.
- Como é?
Até a casco de cágado pareceu ter oscilado da posição quando a “ensolarada” Ruby captou a resposta do Youko; ele disse com convicção, olhando nos olhos sem piscar e com a voz reta. Locke parou de flutuar e desceu ao chão (???).
- Eu sempre precisei mais de você do que ao contrário, Ruby... Você foi o primeiro ser vivo a ter uma afinidade inquestionável comigo, a única pessoa capaz de quebrar a coluna (apontando para o casco) a fim de tentar compreender as minhas palavras... A pessoa que me motivou a trabalhar a cada dia mais, a fim de tornar-me apto a cuidar dos negócios do meu pai... Sem sua existência aqui, Ruby... Eu seria... Um mísero holograma na Terra.
- Idiota! Que é isso de holograma?... Você é um homem especial, eu sem você é que seria uma tragédia... Amor, sem você eu jamais aprenderia a viver, a sair de casa! O Sol me ofuscava, não é? Você me valorizava e é exatamente isso que não tem preço. – Ruby falara como alguém de garganta engrolada; lacrimejando.
- Resumindo o nosso drama: Você era insegura e eu incompetente. Nós nos completamos, Ruby. Só que autoconfiança se ganha através de um erro, e o senso de competência através... Através... De um desastre.
Moses voltou a prostrar-se de joelhos; ele devia notar que Ruby odiava esta postura:
- Eu... Eu entendo... Saiba que eu sempre estarei olhando você também, amor... Meus pais ainda não guardam boas recordações de você, mas... Viva a sua vida vislumbrando uma nova Era. Está certo?
- Ruby... Por que essa carapaça de cágado nas costas?
- Eu não fui santinha aqui na Terra... Então, essa carapaça eu recebi como uma penitência em nome dos humanos vivos que maltratam a Natureza ou agridem a biodiversidade... Não se preocupe, as asas dão muito conforto na mobilidade, e o peso dela não é t...
Moses voou com os seus lábios na direção da boca de Ruby. Caiu de queixo no chão e a alma jovem ficou sem fala.
- Que beijo roubado mais furado! Rerereré! Um ladrão assim ia preso sem levar nada!
- Vamos passar essa noite juntos; aqui, nós dois... Ruby... Por favor. – Moses já estava com “chatice de bêbado” praticamente.
- Quanta teimosia, Mô! Eu não disse a você que a garota da Praça deve ser sua prioridade? Se quer uma mulher nesse momento, ache uma viva... Que tal a Sabrina?
- Deixa de bobagem, Ruby...
- Puxa, eu poderia trazê-la aqui...
- É sério?
- Sim. Mas você teria que esperar aqui enquanto eu irei voando...
- Não. Eu vou com você a todo lugar. Não quero te perder de vista mais.
Era constrangedora a posição que Moses adotou: Caiu de quatro no chão e, engatinhando, quis agarrar as pernas de Ruby (ali, apenas panos da saia “de luz” dela). Ela nem se lembrava de tanta vassalagem amorosa durante o relacionamento.
- Sabrina... Ela não é garota para mim, nunca foi e nunca será... Eu não alimento vaidades ou... E você sabe bem disso. Ela não chega aos seus calcanhares para mim, Ruby.
- E como fica a menina ladra de ósculos?
A quase garagem do galpão teve parte da luz sugada pelo vácuo; Mas Moses estava indiferente a sua proximidade atual da Terra ou mesmo de algum buraco negro. Uma decisão deve ser tomada:
- Ela ficará mal: É óbvio que eu gosto mais de você! E mais, se eu morresse aqui e agora, ficaria do seu lado para sempre e sempre!
Ruby agitou os punhos e preparou a sua direita para um tapa. Moses, instintivamente, andou para trás pondo as mãos estendidas protegendo seu rosto; porém ambos perceberam que, se ele não podia tocar num anjo, o inverso também valia.
- Você jamais diga isso de novo também. Senão eu vou te amaldiçoar ou sei lá o quê... Por favor, não fale isso de novo. Tu és muito importante para o nosso mundo! Você poderá desequilibrar na reconstrução da nossa sociedade... Eu vejo um futuro muito brilhante seu... Que não está somente baseado na Medicina Veterinária: Acredite em mim e, principalmente, em você.
- Você vê um futuro?... Hahahaha! Você ganhou mesmo superpoderes?! Demais! Então anjos podem conjurar ou buscar qualquer pessoa, prevê futuros e cheiram as árvores de carvalho. Eu sou o dono de um centro veterinário chamado Youkoloko, Ruby... No quê eu vou servir para a revolução da sociedade?...
- Em primeiro lugar, “superpoderes” (Ruby “aspeou” a cabeça com os dedos) é um termo muito exagerado... Na verdade, eu só consigo executar um truque dito inimaginável:
Locke juntou as palmas de suas mãos, forçou as expressões da face como um indivíduo que acha um banheiro após devorar alguns bombons, e ofereceu a Moses uma casquinha de baunilha! Moses lambeu o creme antes de ficar chocado... Pela reação, achou uma delícia.
- Por que... Por que... Sorvetes?
- Porque eles estão bastante ligados a minha felicidade terrena. Esqueceu que eu adorava? Eu devo ter outras habilidades... Meu problema com a luz pode me permitir manipular sombras ou algo assim... Mas ainda não desenvolvi; cheguei muito nova lá... Pouco sábia...
- Eu não quero te deixar agora, Ruby!
- Deixe de pieguice... Ela não faz o seu estilo. Sua juventude irá acabar juridicamente daqui a poucos dias, entende? O dia 19 de junho já está chegando, e... Você deve aproveitar esses próximos dias de “liberdade juvenil” para checar o que o levará a viagens de verdade. Experimente delírios! Faça o improvável! Não use a função conativa com os outros! Viva, amor.
- Deixa de ser sistemática... Ela me faz enlouquecer por você! Dia 19 é... É... Maldição! É mesmo o meu dia! Você sabe, eu perco o rumo por causa da culpa justo nestas desgraçadas 24 horas... Meu desejo era só... Pedir-te perdão!
Ruby não segurou o choro e sua face bem esculpida começou a parecer bem úmida. Iria ser difícil para ela separar-se de vez então; mas um dever era um dever para vivos, mortos, anjos e cágados.
- Pelo poder em mim investido, lhe declaro perdoado... Tenha um feliz aniversário adiantado.
-... Só isso?
- Eu estarei enchendo o seu saco sempre que puder... Encontre-me abaixo da sua estrela, amor. - Ruby Locke virou e aproximou-se da vidraça grande de vidro, na parede do galpão. Cabisbaixa.
Moses se deu o trabalho de gritar, mas sua voz se perdera; Nem uma dor latente a sua garganta tinha... Deixando-o mais angustiado ainda. Por que parara de sofrer após o perdão aceito por Ruby?
Tanto faz... O sonho se acabara e o Youko piscou os olhos, enxergando o teto vazio de seu quarto. Toda a lembrança do ocorrido grudou na sua mente e tudo indicava que lá iria permanecer, até a data do vencimento de sua vida. Ruby estava no céu manuseando sorvetes? Ruby flutuaria pelos corredores da YL com uma carapaça de cágado? Jamais Aizaiah ou Yosef seriam privilegiados com a trama desse sonho, pois era maluquice... Até o paladar e o tato estavam envolvidos na maluquice; E configurava no senso comum – em algum parágrafo rasurado da Constituição universal Humana - que nenhum dos cinco sentidos aparecia durante nosso caminho pelos abismos do sono. Pois bem, a “Assembléia Constituinte” poderia rever seus conceitos ou agendar uma reunião com o Amor.
O corpo cansado de Moses apenas aumentou seu grau de fadiga; aquele sonho fatiou a sua “carcaça” e a parte reacionária de seu cérebro... Mas o seu coração mantinha-se batendo forte, pulsando constante... Ele imaginou que, no mínimo, o músculo ficaria “suado”, porque sentia uma comichão atípica na área esquerda do peito. Embora um pouco preocupado, estava bem contente... Estava vivo indubitamente, com todas as letras. E maquinava já as suas atitudes para o Sol que ia raiar dentro de uns minutos: Reuniria informações sobre todas as garotas “forasteiras” que estavam no Evento da Praça Rozendo; daria um jeito de rever a garota e conquistá-la. Afinal, Ruby surgiu e falou dela sorrindo! Sem ressentimentos! Se fosse preciso pedir desculpas para Win... A substituiria por: ”por favor, cara, ajude-me!”: o pedante geralmente falhava com ele... Win relevaria qualquer revelia também.
Colaborar com a mudança na sociedade... E “aquilo” pode ser mudado? Quem ajudaria Moses a colaborar... Além de Aizaiah? O veterinário só tinha certeza de uma coisa: No momento em que pegasse o paradeiro da ladra de beijos, ficaria íntimo de uma outra realidade... Sem máscaras e sem carapuças; E claro que não sabia se explicar corretamente por quê. A reflexão mais lúcida de Moses foi: O início do caos estaria em pauta assim como a gênese da Revolução.
Conclusão boba. Trivial. Pouca Ruby no raciocínio.
- Vou pegar um copo de água. – falou sozinho o garoto.
Dando de cara com o corredor, Moses avistou o quadro de Ruby como de praxe. Sim, não estava mais iluminado ou mais trevoso que antes... Sinal que a lenda dos “sonhos com espíritos” tinha sua porcentagem de balela. Todavia, no retorno do trajeto cozinha-quarto, ele parou e deu um zoom no picolé de Ruby: Visivelmente havia mais pingos escorrendo do gelo industrializado do que Moses nunca contara. O tempo passou rápido... E o Amor não o temia de jeito nenhum. Os homens poderiam aprender muito com o Amor se a reunião excepcional da Assembléia se tornasse realidade. Mas, fortuitamente, os donos da ética dormiam embaixo da terra agora e todos os departamentos de atendimento do Amor eram inimigos pacifistas da Burocracia.
Quer dizer... A filha bastarda do Tempo.