
CAPÍTULO 5
O VENTRE DA BESTA
- Mas... Mas... Não é nem oito da manhã ainda...
- Dylan, eu vou de carro e calculo estar aí às dez! Hoje é domingo!
Tenbrennan é uma localidade tão afastada do âmago urbano meladoriano que uma disparidade métrica de mil centímetros entre duas residências - ambas dentro do próprio bairro – eleva a sensação de deslocamento (a pé) em mais de vinte metros! Segundo a sabedoria popular, a intensidade do Sol na área, o entulho mal cheiroso jogado nas calçadas e o pouco fluxo de pedestres são as causas deste contratempo. Dylan não alertou isto o Youko, pois foi pego de sopetão com a oração “vou de carro”:
- Você tem carro, cara?
- Sim, fica estacionado num canto aqui do quarteirão... Eu só não costumo usá-lo. A última vez foi há milênios.
- É de qual marca? É do ano? Tem sistema de som?
Foi um milagre Moses ter desviado deste canhão de indagações com tranqüilidade; ele se imaginou pegando um ônibus parador com destino a Tenbrennan, mas seria irrelevante até a ajuda da folga do tráfego dominical: O lugar está nos limites da Terra!
- Dylan... Cara, acalme-se! É só uma Kombi dos anos 90. Ajudar-me-ia para o trabalho da YL, caso eu continuasse vendendo animais de porte médio.
- Ufa... Moses, você não tem ideia do que os caras aqui estão fazendo com playboys freqüentadores de Baile Enconxa... Um dia, teve uns riquinhos que vieram, atiçaram várias minas aqui, e... Os maus elementos da área desceram a mão... Atiraram, destruíram os carrinhos importados... (pausa breve) E, ultimamente, estão pegando gosto por esta brincadeira. Essa semana, fiquei sabendo de umas seis ocorrências.
- A violência aí é tão presente assim, Dylan?
- Violência? Hahaha! Sorte a minha e dos outros trabalhadores de bem que a paz está selada entre os dois grupos... PARAMILITARES (Dylan falou alto e bem devagar para Moses englobar o significado) que comandam o comércio nos morros daqui.
- Mas o tráfico continua?...
- Claro cara. O narcotráfico já virou um estilo de vida para alguns...
Moses terminou a conversa comunicando a Dylan não estar com medo de ameaças ou represálias sem razão; desde que Monique, na hora certa da primeira troca de olhares, estivesse longe do fogo cruzado ou do sangue derramado. Dylan reclamou alguma coisa em volume baixíssimo e determinou a esquina onde se encontraria com o Youko (“a primeira após o muro branco mais sujo do universo, dobrando o Bar Tendor”). Debiega fez os procedimentos higiênicos, pegou a indumentária mais “esporte” que possuía e “voou” para analisar o estado da Kombi... Cometeu o inocente deslize de olhar o quadro de Ruby, balançando o pescoço lentamente após o feito.
E não é que a carreta estava em bom estado? Moses saiu da YL e girou o corpo para mirá-la; só precisava de um paninho, devido ao excesso de poeira amontoada de meses. Ainda dava para ver a cor verde-fosca da lataria e as janelas opacas da Kombi bem conservadas... Nem “gotinhas” de pombos havia no veículo; Justine – mais ou menos como Dylan elogiara - era um bairro fantasticamente normal para viver. Comprovado.
Kombi limpa, Kombi na estrada: o veterinário usou o mesmo molho de chaves para trancar a YL e ligar o carro. O trânsito favoreceu o arranque da Kombi aos radicais 80 quilomêtros por hora (!) e Moses entrou em Tenbrennan num tempo menor que o previsto (uma hora e meia). Analisando a paisagem pincelada com toques de cinza; tijolos espalhados pelas ruas, lixo e muitas casinhas drasticamente edificadas nas encostas dos morros. As pessoas pelo caminho viam a Kombi com atração e desconfiança... Pela fisionomia não rotineira daquele veículo, passeando na região suburbana, Moses quis crer que Dylan iria distingui-lo antes que ele pudesse ver o Office-boy parado. Assim, o carro passou a se mover mais devagar até mapear o Bar Tendor. O estabelecimento foi achado depressa, junto com a imagem embaçada de alguém se arrastando até um muro imundo na outra esquina: o Youko abriu a janela e acenou; Dylan correspondeu e com o passo acelerado veio puxar a porta da Kombi para Moses sair.
- Seja bem vindo, cara! Ao lugar onde só o Nada dura para sempre: Tenbrennan.
- Está poético hoje, Dylan? Hahahaha.
- Nem um pouquinho, isso é efeito do mundo real, não é?
Dylan alongou sua mão e fazendo careta de conformação, girou para o cenário atrás deles; Mães e suas crianças andando apressadas de um morro para o outro, homens pançudos com blusas listradas nos ombros cumprimentando-se e se aglomerando nas portas dos botequins, grupos de jovens magros com olhos amarelos, alguns sentados nas sarjetas e outros em degraus cimentados nas encostas. Como não iria faltar, camadas de sacos de lixo davam o toque estético no resto do horizonte... Moses já tinha ido a Medellia e estava “vacinado” contra os percalços das margens sociais, sim. Mas não havia matutado sobre mais (fortes) sintomas do problema.
- É... Você está com seu celular aí, Dylan?
- Não; Deixei recarregando... O que você quer com ele?
- Bom... Agora nada, certo? Hehe. ELA me deu o telefone pelo Nokeysa!
- Oh, que legal! Você apagou essa mensagem da sua ficha?
- Não sei...
Navegar na rede de computadores (sobretudo, o Nokeysa) sempre exigiu um policiamento rigoroso dos seus usuários a si próprios. A maioria dos internautas tomava tenência em relação a normas de proteção com e-mails ou mensagens pessoais, as músicas e vídeos que “absorviam” e – quando estudantes – o usufruto de pesquisas alheias, elaboradas por estudiosos, para os trabalhos escolares. As autoridades de Sinderful já haviam gerado um sistema de monitoramento para crimes pela Internet, mas ainda era muito incipiente.
- Depois eu vejo isso, Dylan... Ninguém irá fuçar minha ficha por nada.
- Bem, se você diz... Vamos achar um telefone público mesmo. Um que funcione.
De carro, os dois rapazes rastejaram pelos quarteirões rasos de Tenbrennan e contaram mais de dez orelhões quebrados consecutivos. O 11º telefone público estava na frente de um bar chamado Beerosca; Dylan e Moses saíram da Kombi e se depararam com um pessoal gritando a plenos pulmões, semelhante a uma Bolsa de Valores, assistindo algo numa televisão de tela verde: Um jogo de futebol... Eles puderam escutar alguns comentários dos fanfarrões:
- Rapaz, essa partida preliminar aí vai ser bem melhor que a pelada de hoje à tarde, hein? Hahaha! (Gole de chope)
- Tá maluco, cumpadi?! É claro que a final do campeonato hoje é uma guerra! E é claro que o Buggs vai ganhar o Rhinocero! Foi mal, compadre... Ôôôô, o Buggs já ganhooouu... (Gole de cerveja)
- Se são os juniores do Rhinocero que estão acabando com o Buggs ali, tu acha que eles tem chance? Sonha, irmãozinho, sonha! Hahaaaa... Dá-lhe, dá-lhe meu Rhinôôô... De coraçããão...
O que cativou a atenção dos andarilhos, esperando a discagem no telefone de Monique ser efetuada no orelhão, foi um garotinho puxando a bermuda jeans do sujeito sentado mais afastado da televisão: O menino choramingava pedindo um doce (ele apontava com a outra mão o grande baleiro perto da TV) para o adulto (seu pai?) e o indivíduo ficava apenas rindo do pessoal acolhido pelo cervejeiro; e para a criança, descia um rosto ameaçador junto com a palma da mão suada... Felizmente, não chegava a bater. E também não fazia o garotinho cessar as reclamações.
- Opa, está chamando, Dylan! – Moses socou animado o colega.
- Alô?... – Uma voz molenga atendeu o fone do outro lado da linha.
- Alô?... Monique?... Sou eu, Moses Debiega. Tudo bem? – o Youko entoou bem a sua garganta, dissimulando teatralmente o seu (cansativo) nervosismo.
- Oi, querido! Que bom que você ligou logo hoje, domingo... O que acha de sairm...
- Eu estou aqui em Tenbrennan, Monique! Quer vir almoçar comigo? Estou de carro. Podemos ver um filme no cinema, ou...
- Sério?! Que ótimo! Em que lugar você está? Vou para aí correndo...
Quando Moses orientou Monique sobre sua localização (“em frente ao bar Beerosca!”), ele a ouviu balbuciar alguma palavrinha e diminuir o volume da voz... Contudo, Hoshino concordou em vê-lo ali, alertando-o que viria em questão de minutos. Dylan pegou o recado e decidiu deixar Moses sozinho; para não, segundo o Office-boy mesmo, “ficar de vela” no meio do Sol forte.
- Valeu de coração, cara. Se não fosse você me ajudando...
- Você não ficaria mais apaixonado do que está agora por Monique. Acertei? Haha.
- Cala a boca! Hehehe... Diz para o Win, se for falar com ele, que estou arrependido de...
Dylan sorriu, fez sinal de “positivo” com o polegar - e os olhos bem cerrados - e foi embora para sua casa; Nisso, o Youko sentiu que estava sendo observado por alguém por perto... Virou a jugular aonde o pai desalmado curtia o futebol e, de sobressalto, percebeu uma bela moça em pé; apoiada rente a parte com graxa (para rolamento) na porta do Bar. Trajava um ‘sobretudo’ bege (o que a camuflara da visão de Moses) e botas pretas de cano longo. Seria chamada de “cafona” ou de “doida varrida” pelo povo, por causa do calor que governava, mas seus cabelos ruivos cortados até a nuca, os óculos de intelectual e o nariz comprido - ordenado com grandes olhos verdes – armaram a mulher de uma suntuosa beleza. Ela estava escrevendo em um caderninho de anotações sem parar, movendo o rosto em várias direções (desejando ver as expressões faciais dos fanáticos por futebol) momento sim, momento não. Moses cruzou os braços e sustentou o olhar na mulher, mas ela não caiu na tentação de copiá-lo.
O menino outrora desprezado pelo pai retornou ao bar dobrando a esquina, pronto para um segundo assalto; o homem aborreceu-se, se levantou e deu uma bronca - regada a xingamentos - na criança. Antes que o garotinho saísse correndo e mergulhasse esquina abaixo, a moça de sobretudo tocou o indicador na nuca dele e ofereceu-lhe bombons (sacados de um bolso). Moses e o menor esticaram as sobrancelhas, a moça deu um sorriso enviesado e uma piscadela para a criança, agachou-se e disse uma frase bem baixinha (Moses nem piscou a fim de ler os lábios dela):
Nunca aceite nada oferecido por estranhos conhecidos! Muito menos conselhos.
Trêmula de vergonha e emoção pelos chocolates, a criança assentiu com a cabeça e deu “tchau” para a mulher, olhando furiosamente o seu pai hipnotizado pelo jogo. Moses fitou-a abismado: Ela foi capaz de fazer aquele pedaço de gente entender um conselho filosófico? O menor sumiu dali com ódio do pai! Isso para uma família era péssimo! Tão péssimo quanto o indivíduo preferir 22 jogadores de futebol a um filho... Opa, Monique está vindo!
- Ooooiii, querido! – Derreteu-se a guria, atirando-se aos braços de Moses; se o Youko ficasse na Praça a noite toda, quem sabe ela chegaria vestida de noiva...
- Monique, que rápida... Estava com tanta vontade de sair de casa nesse Sol? Haha. – Moses deu um beijão na lateral de seus lábios e passou o braço em torno dos ombros da garota.
- Moses, podemos sair de perto desse... Bar? Não me sinto bem aqui. – Hoshino fez mesmo uma cara de pessoa desconfortável, o semblante triste admirando o Beerosca daria assunto para Moses conversar com ela quando se afastassem.
- Hã? Claro, claro... Vamos entrar na minha Kombi, iremos ao shopping.
Monique deu um selinho nele e eles desceram os dois degraus do Beerosca em direção ao veículo YL estacionado. De relance, Debiega contorceu a nuca quase 180 graus: A moça escritora com sobretudo tinha evaporado dali. Monique acomodou-se no banco, pôs o cinto e suspirou:
- Por que você ligou justo ali, querido? Não me importa que tenha sido a cobrar, mas em frente ao Beerosca...
- Ué, mas o que o Beerosca tem de ruim? Desculpe, eu não vi nada de mais nele. – suavizou Moses.
- É uma história cruel... Não envolve a mim, porém... Ai, querido, é melhor eu contar tudo durante a viagem agora, tenho que desabafar com outro homem, e sinto que você é especial...
Entre inúmeros soluços e tomadas de ar, Monique introduziu Moses à conjuntura da região de Tenbrennan: As Organizações Coaguro, – Maior rede de comunicações de Sinderful e uma das melhores do mundo - desde o mês de abril, empregava instalações dos complexos habitacionais na área para gravar a telenovela das dez horas (“Centelhas da Felicidade”). Contudo a protagonista da trama era uma menina rica que mudou de vida ao ouvir o Enconxa, virando uma dançarina profissional do estilo; O setor de dramaturgia da Coaguro gostou tanto daquele núcleo de gravações que decidiu instalar uma base móvel da emissora no bairro, até que a novela se encerrasse! Sendo Tenbrennan um lugar de recursos e serviços criminosamente subdivididos (hídricos, luz, asfaltamento, telefonia etc), o caminhão-quartel-general monstruoso da empresa puxava os “benefícios” unicamente para o seu trabalho.
Resultado: Os moradores suburbanos começaram a ser privados de água nos dias úteis, entre 7 e 11 e meia da manhã, a fim de o caminhão encher bem a sua “cisterna”, e impossibilitados de consumir energia elétrica aos domingos, entre 9 e 11:59 da noite; porque o caminhão parava para reparos e testes de sua fiação. Alguns dos moradores, naturalmente, tiveram a impressão de estarem ludibriados pela Coaguro; um deles era o pai de Monique (Senhor Toy Hoshino), que mobilizou a família e quatro vizinhos - na manhã da última segunda-feira - a fim de discutirem o impasse. Após receberem retornos otimistas sobre o término dos cortes, o Senhor Toy fora baleado na noite de terça, saindo de seu trabalho (Borracharia), por um homem sem camisa e com óculos escuros – segundo as palavras de testemunhas. Monique realçou seus contornos de tristeza e revolta quando tocou nesse tópico:
- Ele só estava pedindo os nossos direitos... Agora, um bandido feriu ele e... Ele está lá no hospital com um braço destr... Meu Deus... Que bom que não foi no coração! Não pode ter sido um traficante, eles sabem que meu pai é bom, nunca disse meias verdades... Ai, querido... A única coisa que meu pai tem de errado é gostar do Beerosca! Lugar cheio... De gente ruim.
(Isto também entre muitas lágrimas e muito catarro).
- Monique... Nem sei o que... Acalme-se... Olha! Chegamos ao shopping!
Diversão! Ainda bem, não é, Moses?
O protótipo de casal almoçou num restaurante de frutos do mar (Adivinha quem pagou a conta sozinho?) e mirou um filme específico para assistir: Geléia de Esmeraldas. Longa-metragem recebedor de boas críticas, sendo uma fusão maneira de aventura com romance; Os dois adoraram a ficção (e a “ficação” também), mas o final deixou a desejar, pois um dos mocinhos morreu tragicamente, acusado de traição.
Na volta para Tenbrennan, abençoada pelo poente, o trajeto estava calmíssimo. Na Rua do Beerosca, só uma briga provocada por uma turma de torcedores do Rhinocero e poucos seguidores do Buggs (os dois lados armados com garrafas e bem alterados); pelas zombarias e as risadas chiliquentas, o Rhinocero tinha derrotado o Buggs na final do torneio Regional, e isso explicava o excesso de álcool nas veias cerebrais da patota de Rhinos (explicava?)
Hoshino beijou o Youko e o aconselhou a não levá-la até a sua casa: Ela comunicara a sua mãe que iria passear com uma amiga, e levar um garoto para sua genitora conhecer justo na condição atual... Moses perguntou apenas se podia protegê-la daqueles arruaceiros (que já se preparavam para serem apartados num segundo confronto). Grande ato de cavalheirismo defender alguém de pessoas viciadas... Sem atitudes e sem sentimentos pela perda temporária de consciência. Descendo a viela adjacente a esquina da casa de Monique, Debiega quase tropeçou em uma sacola de entulho bem espaçosa. Insatisfeito com aquele monte de lixo prendendo a passagem, ele tomou a iniciativa de puxar o saco até a caçamba de coleta mais próxima... Estava muito pesada. Não havia meros resíduos ali dentro. Era um ser humano:
- Monique... Nem sei o que... Acalme-se... Olha! Chegamos ao shopping!
Diversão! Ainda bem, não é, Moses?
O protótipo de casal almoçou num restaurante de frutos do mar (Adivinha quem pagou a conta sozinho?) e mirou um filme específico para assistir: Geléia de Esmeraldas. Longa-metragem recebedor de boas críticas, sendo uma fusão maneira de aventura com romance; Os dois adoraram a ficção (e a “ficação” também), mas o final deixou a desejar, pois um dos mocinhos morreu tragicamente, acusado de traição.
Na volta para Tenbrennan, abençoada pelo poente, o trajeto estava calmíssimo. Na Rua do Beerosca, só uma briga provocada por uma turma de torcedores do Rhinocero e poucos seguidores do Buggs (os dois lados armados com garrafas e bem alterados); pelas zombarias e as risadas chiliquentas, o Rhinocero tinha derrotado o Buggs na final do torneio Regional, e isso explicava o excesso de álcool nas veias cerebrais da patota de Rhinos (explicava?)
Hoshino beijou o Youko e o aconselhou a não levá-la até a sua casa: Ela comunicara a sua mãe que iria passear com uma amiga, e levar um garoto para sua genitora conhecer justo na condição atual... Moses perguntou apenas se podia protegê-la daqueles arruaceiros (que já se preparavam para serem apartados num segundo confronto). Grande ato de cavalheirismo defender alguém de pessoas viciadas... Sem atitudes e sem sentimentos pela perda temporária de consciência. Descendo a viela adjacente a esquina da casa de Monique, Debiega quase tropeçou em uma sacola de entulho bem espaçosa. Insatisfeito com aquele monte de lixo prendendo a passagem, ele tomou a iniciativa de puxar o saco até a caçamba de coleta mais próxima... Estava muito pesada. Não havia meros resíduos ali dentro. Era um ser humano:
Dylan estava morto com uma bala na testa, dentro do saco de entulho.
Moses ficou mais do que perplexo: Seu corpo arrepiou-se como um novato entrando em um pesadelo Déja vu. Dylan... O sujeito que o ajudara mesmo não o conhecendo muito bem; o sujeito que não soube entender as reservas que o veterinário tinha da sua pessoa, mas o tratou bem - em duas oportunidades - com um senso de companheirismo inestimável. Moses começou a suar frio, as pernas ficaram mais pesadas e a garganta emperrara. O terror rendeu seu espírito. Como iria dirigir para casa? Precisava pensar em outras coisas... Como se chamava a moça que estava com ele mesmo?... Os olhos do Youko iriam saltar fora da cabeça a qualquer instante, de tanto sacudirem; até que, bem próximo da Kombi, Moses achou um pedaço de papel amarelo cheio de rabiscos em tinta roxa brilhante. Fato esquisito o bastante para Moses conseguir abaixar, pegar e guardar a folhinha no bolso.
A fim de folgar um espaço na mente, no campo de pensamentos para motoristas, Moses focou nas maiores letras da “cartinha”: Não ia ler toda em frente ao volante; embora cheia de rasuras e amassos, uma escrita que se inicia com a seguinte frase merece uma leitura carinhosa:
... Vivendo às margens da morte, ninguém dura, ninguém vê e ninguém sente... Quando o ninguém age, um alguém elimina. As crianças são ignoradas e os adultos ignorantes. A educação resume-se a futebol, a corrupção é mais uma religião no país e a família é menos um mal no mundo. Deus está contigo. Por que sua omissão? Por que não Lhe confessar que o ódio da besta age as margens da vida? ...
Moses ficou mais do que perplexo: Seu corpo arrepiou-se como um novato entrando em um pesadelo Déja vu. Dylan... O sujeito que o ajudara mesmo não o conhecendo muito bem; o sujeito que não soube entender as reservas que o veterinário tinha da sua pessoa, mas o tratou bem - em duas oportunidades - com um senso de companheirismo inestimável. Moses começou a suar frio, as pernas ficaram mais pesadas e a garganta emperrara. O terror rendeu seu espírito. Como iria dirigir para casa? Precisava pensar em outras coisas... Como se chamava a moça que estava com ele mesmo?... Os olhos do Youko iriam saltar fora da cabeça a qualquer instante, de tanto sacudirem; até que, bem próximo da Kombi, Moses achou um pedaço de papel amarelo cheio de rabiscos em tinta roxa brilhante. Fato esquisito o bastante para Moses conseguir abaixar, pegar e guardar a folhinha no bolso.
A fim de folgar um espaço na mente, no campo de pensamentos para motoristas, Moses focou nas maiores letras da “cartinha”: Não ia ler toda em frente ao volante; embora cheia de rasuras e amassos, uma escrita que se inicia com a seguinte frase merece uma leitura carinhosa:
... Vivendo às margens da morte, ninguém dura, ninguém vê e ninguém sente... Quando o ninguém age, um alguém elimina. As crianças são ignoradas e os adultos ignorantes. A educação resume-se a futebol, a corrupção é mais uma religião no país e a família é menos um mal no mundo. Deus está contigo. Por que sua omissão? Por que não Lhe confessar que o ódio da besta age as margens da vida? ...
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