quinta-feira, 30 de julho de 2009

[CONTO/FICÇÃO] CADELA ANNIE: UM CORAÇÃO... E UMA COLEIRA


Foi-se o tempo em que a loja de animais Youkoloko era o melhor centro de tratamento para bichos de estimação que se tinha notícia. Desde o fim da terceira geração Ryfer – O clã fundador do estabelecimento – com a morte do senhor Debiega Ryfer, suas descendentes optaram por um flagelo gradativo da loja: as irmãs Iris e Ialin não faziam valer a reputação do império do pai e sequer cogitavam pintar a fachada do prédio - identificado por um simples “YL”. Nas palavras frequentes de Iris, a filha mais nova de Debiega: “No ano que vem, tenho fé que já estaremos livres desse inferno cheirando a passarinho!”. Além de um grande administrador, o senhor Ryfer fora um excelente veterinário. Nunca deixou de tratar bem tanto o animal de estimação quanto seu criador (o querido cliente); e que fosse por um exame ou uma castração... ou simplesmente compra de ração. Infelizmente, por mais que as filhas sentissem sua falta, nenhuma delas queria saber de bichos. A filha única de Ialin, Anneke Ryfer Metcalfe, amava animais mais do que bonecas. Sim, o negócio voltaria a ter algum futuro através da quinta geração da família:
- Manhê! Tô indo entregar a comida da Cute, ok? – A voz alegre de Anneke cobria todo o prédio, da loja aos aposentos da casa dos Ryfer. O que a menina não notou era que sua mãe ainda estava dormindo (eram 11 horas da manhã de um domingo).

- Garota, é domingo! Não há serviço hoje, esqueceu? – Iris saiu de seu quarto irritada, porém não apresentava um semblante sonolento. Ao que tudo indicava, estava pronta para ir à praia.

- Desculpa, tia... Mas a dona Phair ligou pedindo uma entrega lá em baixo. Não irei deixar a Cute passar fome, ela é tão linda... Já volto! Espero que a mamãe não tenha acordado. – A menina partiu em disparada pelas escadas com uma sacola de comida para gato na mão.

- Tenha cuidado, Anneke! Ah, deixa pra lá... A Ialin tem sono pesado mesmo. – A moça ajeitou sua blusa, recolheu sua bolsa de praia e fechou a porta de seu quarto. Iria curtir a sua folga.

Pouca gente achava possível uma criança - que nem completara treze invernos de vida - como Anneke ser tão ou mais ajuizada que a sua tia de 25 anos de idade. Se não fosse a neta de Debiega, talvez a loja já estivesse em uma queda irreversível. A menina cuidava da Youkoloko desde antes de ir para escola (acordava às cinco da manhã para varrer o estabelecimento) até depois de jantar, quando organizava todas as prateleiras para o dia seguinte. Ialin e Iris ficavam basicamente com a manutenção do caixa e os "tramites" financeiros. Há três anos o centro não contava com o serviço de veterinário; pois após o óbito do velho Ryfer, suas filhas não contrataram mais nenhum funcionário.
- Obrigada, meu anjo. Com a comida, Cute vai se acalmar. Vem cááá... – fazia biquinho a Sra. Phair para o felino que Anneke adorava. A jovem acariciou a gata antes de retornar para casa.
Mesmo tendo o status de “ovelha negra” entre os fregueses, e vários outros moradores do seu bairro, Metcalfe raramente bancava a menina mimada, preguiçosa ou travessa... Era vista pelos colegas como uma criança sem graça. Até as notas na escola não eram extraordinárias tampouco decepcionantes. A mentalidade de Anneke era exageradamente equilibrada, um espírito maduro e inabalável. Havia puxado mais o seu avô do que Ialin e Iris juntas. Sua mãe gostava de comentar da única vez que a vira chorar. Não, não foi no dia da morte de Debiega. Foi com a morte de Annie, sua cadelinha de estimação, derrotada por um câncer no ano seguinte à partida do Sr. Ryfer. Enfim, com obstáculos ou não, fechar a Youkoloko era a última coisa que Anneke desejava em sua vida, por isso conseguira arranjar um 'curso' de primeiros socorros veterinários: Era discípula de um velho amigo de seu avô - o senhor Camus Barbera. Em troca das aulas, ele pedia apenas suprimentos de cães e gatos, abandonados, para a ONG em que ele agia como voluntário. Na segunda-feira, Barbera ligou para a YL pedindo que levassem urgente comida para coelho. O roedor fora encontrado em alguma esquina do bairro. Mas o horário do telefonema preocupou muito Ialin:
- São dez horas da noite, Anneke! Nem pense na possibilidade de permitirmos que você saia por aí! Não importa se é para o velho Camus, a cidade está muito perigosa! Deixe que eu irei...

- Não, mãe. Eu quero muito ver o coelhinho; provavelmente ele é o criado pela família Moneybelt, mas eles estão viajando... E o coitadinho ficou sem comida e conseguiu sair. Deixe comigo. Conheço todo mundo aqui do bairro, não tem problema. – Impulsiva, Anneke saiu do balcão da loja, pesou um saco de dois quilos de ração para coelho e gritou à Ialin, antes de sair, algo que soou como: “Não vou demorar!”

Chegando à sede da ONG, o senhor Camus encontrava-se ali com um rapaz e uma moça bem joviais; os três estavam prestando cuidados ao coelho. Anneke foi bem recebida por eles e se prontificou a dar a comida para o herbívoro, que jantou sem se incomodar com os humanos. E todos desataram a rir e acariciar o coelho. Na despedida, a dupla convidou Anneke para voltar de carro com eles. Ela educadamente recusou, preferia ir a pé para ver se achava outro bichinho solitário na rua também... Pura desculpa: Ela não queria mesmo era atrapalhar um casal de namorados adolescentes. Indo para a YL normalmente, a menina possuía apenas os postes de luz como companhia até que, como o(a) leitor(a) provavelmente imaginou, um assaltante a surpreendeu em frente a uma rua sem saída do bairro:
- Muito bem, bonequinha! Pode ir passando os seus brincos e tudo o mais que tiver de valor aí! – O sujeito além de ter uma arma, tinha um comparsa. Ambos usavam um gorro cobrindo suas cabeças. Apesar do cenário de perigo, Anneke não se comportou como a boneca que seria:

- Antes de qualquer coisa... Boa noite, senhores. Não sei o que vão fazer com bijuterias, mas aqui está o meu par de brincos. Peguem. – Anneke jogou os cabelos e tirou os brincos calmamente.
- O quê? Bijuteria? – o outro ladrão empurrou o colega armado – E esse colar aí, ô tampinha? Pode ir tirando também porque ele não é porcaria! Isso sim é ouro! – O cara não tinha revólver, mas certamente era o mais atrevido. Metcalfe mudou o seu semblante para um olhar sério:

- Lamento. Minha gargantilha não está disponível... É presente do meu avô e só pretendo me separar dela quando morrer. – Agora sim, Anneke ficou concentrada (e apreensiva) nos movimentos dos homens.

Os bandidos olharam-se desorientados por um tempo, até o desarmado avisar a Anneke:
- Então... Então... Parece que o momento chegou! Aizaiah! Manda bala rápido nessa guriazinha!

Frente a frente com a garota (uma vez que o meliante “abusado” o jogou de volta para frente), Aizaiah praticamente havia perdido os sentidos. Tremia, piscava e gaguejava freneticamente. Não sabia se era a respiração ou a memória dele o que girava mais. De repente, ele abaixou a arma... E começou a chorar copiosamente; Anneke percebeu o gorro dele ficar úmido graças à iluminação forte da rua.
- Qual é, mermão! Por que você está chorando? – Aquilo bastou para o amigo de Aizaiah desesperar-se também. Ora, quem se sentia mais intimidado ali: Os ladrões ou Anneke?

- Cara, eu não vou fazer isso... Faça você... Vo-você tem mais experiência mesmo... – Aizaiah entregou o revólver ao amigo com a mão frouxa. A resposta a essa atitude foi imediata:

- Sai fora! Não... Não me complique mais! Agora eu estou livre! Pra lá eu não volto mais! – e o homem desarmado saiu correndo e dando saltos, olhando para trás de segundo em segundo.

Enquanto apreciava aquela amostra de “instabilidade mental” rara em seu cotidiano, a herdeira Ryfer não olhara o homem hesitante ainda parado defronte a ela, querendo falar algo. Lágrimas idiotas! Tão próximas e tão distantes das palavras ao mesmo tempo. Eis que chega a voz:
- Me... Perdoe-me, pirra... Quero dizer, menina... Jamais eu iria... Atirar...

- Oh! Vem cá, você está com algum problema? Posso te ajudar? – Anneke finalmente se ligou no cara que acabara de cair de joelhos no chão. Até a arma caiu fora de sua mão (no sentido literal).

- Ou, melhor perguntando... Posso te entender?

Aizaiah nunca ouvira aquela frase na vida, isso explica o choque que sofreu com a pergunta. Anneke precisou dar um “tapinha” na bochecha dele para checar se ele estava consciente.
- Não sei o que responder menina – uma resposta previsível –... Confesso que me senti mal... Com a sua coragem... De onde você veio?

- Bom, eu moro aqui na área. E você? Sinto muito, mas não acredito que seja um assaltante profissional, não é? – O sorriso exibido por Anneke colocava afetuosidade e deboche num só rosto.

Depois que a garota ajudou o homem a se levantar, ele balançava a cabeça negativamente. Os dois percorreram alguns metros em silêncio, e antes de chegarem à rua da Youkoloko, Aizaiah resolveu abrir a boca e quebrar sua vergonha em forma de medo:
- Não pretende me denunciar, certo? Por favor... Não posso voltar para a cadeia! Tenho que reencontrar meu filho! Juro que nunca mais iremos nos ver novamente!

Anneke parou de andar. Passou a olhar o que ocorria ao seu redor... Nada. Encarou o olhar triste de Aizaiah – já havia tirado o gorro – e concluiu: “ele disse muita coisa de uma vez só.”
- Aizaiah, visite o Pet Shop Youkoloko amanhã à tarde. Se você não o fizer, eu irei até a delegacia sim. Chegando lá, pergunte pela Anneke. Tem um abrigo público a seis quadras daqui... Boa noite.

A garota se afastou de Aizaiah, sem reação. Havia falado demais para uma desconhecida que não conseguira assaltar... Ele quis fazer uma criança de vítima, mas acabou tornando-se submisso aos comandos dela. Só restaria procurar onde a tal Youkoloko funcionava... Achando o albergue, pôde dormir mais calmo. Entretanto, sua tarde de terça foi cansativa. O símbolo “YL” necessitava de reforma mesmo.
- Por favor... Anneke está? – Aizaiah se dirigiu a Iris exibindo sua face e forma abatidas.
- Hã?! O qu-quem é... Vo...?

- Estou aqui, senhor Aizaiah... Oi, tia. Nem nos vimos hoje... Já fiz meu dever de casa, certo?

- Quem é ele, Anneke? Ele está destruído! – Iris ficara receosa com a presença de Aizaiah, e ainda murmurou irritada – Não o quero aqui, um cliente desse jeito derrubaria mais a imagem da loja!

A jovem foi empurrando Iris carinhosamente em direção as escadas, piscando o olho e sussurrando (“Descanse, tia. Deixe esse coitado comigo”). Ela voltou, sentou-se na bancada e retomou o encontro da noite anterior nos mesmos termos utilizados antes:
- Posso te entender? – Anneke deu o sinal para Aizaiah se explicar (ou desabafar).

- Meu filho... Fugiu de casa após o meu divórcio com a mãe dele... Nossa família além de miserável sempre foi... Desorganizada... Admito que eu gastava nossa pouca grana com bebida... Mas minha mulher me traía! (longo choro) E que isso importa agora?... Nosso filho partiu numa madrugada...
Antes que voltasse a tremer, Anneke deu mais um daqueles tapas de atenção no sujeito. Ela e seu rosto sério ordenavam que Aizaiah continuasse essa historinha até o fim:
-... Ele... Deixou uma carta dizendo que iria para o porto... Não queria ver mais os pais brigarem todos os dias, ele... Ele tem mais ou menos a sua idade!... Enfim, ele pretendia entrar clandestinamente no primeiro navio que estivesse lá, porque para esse lugar não voltaria (choro)... Mas, dias depois, vimos num programa de TV uma notícia ao vivo: estavam flagrando o movimento de um navio daquelas empresas que escravizam crianças! Foi o único atracado no porto por semanas, sabíamos disso porque morávamos muito perto da zona portuária!... O cara da TV disse que... Que... Provavelmente eles iriam parar em Hong Kong! (pausa para choro dramático) Aí, minha mulher e eu conhecemos uns sujeitos e entramos numa quadrilha para roubar um banco... Precisávamos de muita grana para viajar ao outro lado do mundo... O plano deu errado... E fomos presos!

As fungadas de Aizaiah seriam insuportáveis caso a história que contava também fosse; Metcalfe esperou e o deixou se recompor (bem, ela nem sabia o motivo de ele realmente ir a “YL”):

- Aquele cara de ontem ao meu lado... Era da quadrilha. Fomos os primeiros a sair do xadrez por falta de provas... Porém ele era um dos cabeças. Um irmão dele arranjou a arma para nós e ele, achando que estava fazendo caridade, me cedeu o revólver para saquear uma casa ou uma pessoa, pois a prioridade seria achar meu filho!... E o primeiro ser que vi na noite de ontem foi você... Obrigado por abrir meus olhos... Eu não sou uma pessoa má, Anneke. Apenas sou um amaldiçoado ou sei lá... Um azarado.

- Azar? Humpf, não sabe o que é isso... Você é apenas um infeliz mesmo. – Definiu Anneke.

O ambiente conspirava para a menina ter a palavra (não havia freguesia naquele momento):

- Perdi dois dos seres mais importantes para mim, num intervalo de um ano, por dois acidentes! Você não sabe o que é azar... Meu vovô Debiega era o dono dessa loja e nós criávamos uma cachorrinha chow chow. Ela foi um presente importado pelo meu pai que é Oficial Militar; era o meu xodó, a Annie... Ela curou meu 'mal' (Anneke asepou as orelhas) de ser uma criança tão inquieta: Sempre calma e trazendo harmonia a nossa família e aos negócios. Vovô lia a Bíblia com ela no colo, e ele nem era tão religioso assim... Só que Annie inspirava meu avô a refletir mais. Ela o entregava um livrinho-miniatura da bíblia sempre que saía de casa. No único dia em que meu avô não pôs o bibelôzinho no bolso ao sair... Ele morreu assassinado.

Uma pausa para o choque de Aizaiah. Anneke continuou depois que o homem assentiu:
- Foi em um assalto... Meu avô não entregou esse pingente aqui (Anneke mostrou sua garagntilha de ouro). É da minha bisavó e ele jamais o daria, pois o brasão da nossa família está cravado nele. Bem, o assaltante tinha apenas uma navalha miserável, mas conseguiu perfurar o peito do velho... Se a pequena Bíblia estivesse no bolso... E a... A Annie...
Possivelmente aquele instante ficou marcado na memória de Aizaiah; porque foi o mais próximo que um estranho esteve de presenciar Anneke derramando uma lágrima. Contudo, o choro não aconteceu de fato:
- Annie ficou tão deprimida quanto minha mãe e a minha tia... E acabou por desenvolver um câncer raro no estômago. Meu tio veterinário Barbera disse que a "causa-mortis" foi a tristeza que a rendeu... Ao invés de tomar o seu remédio certo dia, ela acabou ingerindo gotas de mercúrio, acelerando a evolução do tal tumor e a matando em questão de minutos. A culpa foi minha por deixar um termômetro cair... (suspiro tímido)
- ... Enfim, se eu me virar uma especialista em bichinhos no futuro, honrarei o legado do vovô e, de quebra, compensarei a morte da Annie salvando outros animais.

Ser solidário não seria o jeito de um ex-quase-ladrão agir, porém quando Aizaiah pensou que uma mão no ombro de Anneke iria aliviá-la daquele flashback ruim, foi desarmado (de novo!):
- Acho que foi pela soma dessas perdas que eu amadureci tão rápido... Muito bem, Aizaiah, eu irei à delegacia. E se tentar impedir, eu vou gritar. A mamãe e minha tia não são lá pessoas muito tranquilas.

Transbordava da face de Anneke sua sinceridade, incrível. Perante aquela voz imatura e irredutível, Aizaiah não tinha nada para argumentar. Voltou a ficar com os olhos vermelhos, mas se levantou lentamente e saiu da YL melancólico...
Aizaiah não tinha um destino e nem o que fazer: Sua mulher ficaria um bom tempo na prisão (ela havia agredido um bancário), e o seu filho em Hong Kong continuaria confeccionando algum bem material que, injustamente, sairia mais caro do que o seu sofrimento. Ele resolveu retornar ao albergue; já anoitecia e assim poderia ter o sono mais comprido da sua vida. Quem sabe adormeceria para sempre em breve... Ao amanhecer, decidiu passear para espairecer, tentar encontrar um rumo. Logo, avistou uma moça acompanhada da garota Anneke. Ela apontava nervosa para o pescoço dele:

- Tá bom, tá bom... Deixa comigo, mãe. Aizaiah! Pegue esta passagem de avião e me escute: Eu levei o seu revólver naquela noite, expliquei tudo a minha mãe e nós tiramos todas as impressões digitais nele com luvas e objetos cirúrgicos veterinários... Isso é o de menos. Sua arma era uma pistola de alto nível. Ela vale 3.000 dólares de recompensa ao entregá-la à Polícia... Com a passagem em mãos, faça um passaporte e viaje até Hong Kong. Chegando lá, parta imediatamente para a Zona Portuária da cidade e procure pelo Tenente Metcalfe: Ele é o meu pai e estará chegando lá, com uma embarcação da Marinha nacional, só para ver você. Assim, você terá a ajuda necessária para encontrar o seu filho.

- Não... Não creio... E minha arma caiu e... Eu nem percebi! Deus... Como sou imbecil...

- Você não é imbecil. Apenas não serve para ser ladrão. Vá à Polícia Federal e faça um passaporte, vai! O seu vôo sairá em duas semanas! – Anneke empurrou mais dinheiro na mão de Aizaiah. – Faça o melhor para reconstruir sua família. É o seu tesouro.
Bastou a Anneke compreender alguém à margem da sociedade para crescer mais. Ela desafiou a morte julgando não ter nada a perder; e, no fim, acabou perdendo um dinheiro que levantaria um pouco a Youkoloko. Em compensação, seu gesto foi tão nobre quanto a estrutura familiar que a envolvia.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

[CONTO/FICÇÃO] "E NÃO IMPORTA O QUE FIZEREM, SEREI SUA TROPEÇOÍNA..." - uma historinha urbana:




Acabaram de contar a Francis mais uma calúnia envolvendo a sua amada Sally. É... Ela saiu com um cara popular... Claro que a última briga do casal foi para romper a relação. - e acabou rompendo a barreira do som junto – Porém nenhuma perda de audição (ou de vergonha, já que tudo ocorreu na frente do colégio) era suficiente para a fissura por Sally cessar. A senhora Goinita não suportava mais ver seu filho querendo deixar a garota materialmente satisfeita... Francis jamais tinha sido alguém consumista até conhecer aquela menina, a própria dona Beulah Goinita inventara a tal calúnia para tentar eliminar a paixão de Francis. E não obteve sucesso:
- A senhora me contando uma mentira dessas. Por que, mãe?

- Essa pergunta é minha! Filho, essa Sally não pres... Serve para você! Já te falei isso!

O jovem recusou-se a olhar para sua genitora. Sempre passou por desilusões amorosas desde que se entendia por gente (coisa de uns dois anos) e não iria admitir que Sally não gostasse dele de verdade. Ora, ele a ajudava em todas as provas do colégio... Geralmente fazendo o seu exame com o nome dela e depois trocando com a folha da sua amada na carteira da frente, Sally provavelmente se encantou por todas aquelas “provas de amor”. Mas o pensamento foi desarmado pela intuição de mãe pertencente à Beulah:
- Você é ingênuo, filho... Tão esperto para assuntos de escola, mas tão desligado em comportamentos de vida. Acha que fazer as provas a conquistou? Só fez meu filho virar um escravo dela. – A mulher tentou abraçar Francis depois da declaração, mas não recebeu o retorno desejado.

O único herdeiro das dívidas da família Goinita tinha intenção de ir para a escola ler algum livro ou conversar com alguém, mas lembrou que a semana de provas permitia que os alunos fossem para a casa mais cedo. Ou seja, já tinha ido para lá naquele dia, mas não queria admitir. O colégio era muito mais acolhedor para aquele cara estudioso do que o próprio lar. Depois de atravessar a avenida antes do edifício escolar, Francis acabou trombando numa pessoa apressada e derrubou a bolsa alheia. Apesar de prontificar-se a recolher o que caiu, o homem impediu a ação dele com um gesto educado, repôs tudo de qualquer jeito e foi-se. Nem olhou para o garoto.
- Olha só quem está vindo! O amor da sorriso metálico! Já podemos zombar de alguém hoje! – Definitivamente, Francis chegou ao seu colégio. Os amigos do “cara popular” Ringo Mappuccino não perdiam a oportunidade de rir de um nerd. Principalmente ele, por causa de Sally. Num ato atípico, o nerd mentiu que Ringo queria os capangas presentes na lanchonete do Joe. Os rapazes não hesitaram e debandaram depressa do pátio em direção ao “Joe’s” da esquina. Usar melhor o cérebro era útil no mundo cão. E, para ficar sozinho ali, Francis aprendeu.
Ela me traiu? Está me traindo nesse exato momento? Por que ela não gostaria de mim? Não posso ser tão feio... Ela é uma garota tão preocupada com as notas, não é uma qualquer... Será que ela prefere mesmo o “Cappuccino”. – Síntese dos devaneios de Francis. Mesmo ciente do motivo pelo qual o pessoal zombava dele, não era capaz de enxergar os reais objetivos de Ringo.

Por isso ele começou a chorar. Ridículo... O modo que ele lacrimejava. Piscando sem parar e tentando fazer outra coisa para disfarçar a melancolia. Porém o exagero nos movimentos era revoltante: Ergueu a mochila para pegar um livro, sorteou uma apostila de concurso público enorme, secara os olhos com uma folha do caderno... O tipo de adolescente bem orientado. Até outros transeuntes na rua de trás da escola viam que Francis sentia-se péssimo. E o mais interessante é que o jovem olhava algumas das pessoas e elas não aparentavam felicidade também.
Lendo uma questão aleatória da apostila, Francis percebeu um enunciado com versos em prosa e teve uma idéia muito peculiar: Resolveu compor um poema romântico para dar a Sally. Pronto. Era aquilo que salvaria a relação deles. A garota gabava-se com suas amigas que homens geniais foram Shakespeare, Allan Poe, Pessoa... Van Gogh... Puxa, literatura era o seu único fraco no boletim. Não importa, o estudante armou-se com uma esferográfica: Num determinado momento perdeu inspiração, então foi até a Praça Jokebox. Num banquinho ali, terminou 16 versos de puro amor. Ficou tão bom que Francis até esqueceu-se de sua caneta, lembrando-se dela já perto de casa.
Hora de voltar a Jokebox outra vez para checar se a maravilha da caneta multi-tintas (objeto caro! Foram três moedas de 50 centavos nela!) permanecia onde deixara. Quando avistou o banco, preocupou-se: Um mendigo maltrapilho estava bem relaxado no acento, utilizando a caneta para anotar algo em sua mão. Tudo o que Francis não queria era mais um problema:
- Éééé... Olá, amigo. Mil desculpas, mas... Essa caneta que você usando é minha, e eu a deixei aqui sem querer minutos atrás, e... – Desafio ideal para nerds: explicar algo a um mendigo.

- Seu “sem querer” é igual a “eu esqueci”, menino? Posso concluir que você estava no meu banquinho favorito. Pois bem, se você me contar o que fez aqui, devolvo-lhe a caneta. – E o “pequeno” Goinita concluiu foi que aquele homem era racional demais para ser um indigente.
- Opa, bem... Fiquei aqui escrevendo uma carta e precisava de outros ares... Para ficar algo bom... – Um nervoso Francis só queria agora bater na mão do homem, pegar a caneta e correr.

- Uma carta, outros ares... A garota para quem você escrevia os versos é sua namorada?

Nisso, o que Francis iria fazer com aquele cara, que matou a mosca pelo pescoço, não era mais pedir a multi-tintas de volta. Era pedir de bônus um autógrafo do senhor mendigo.
- Me desculpe... Mas é incrível, você acertou!... Como vo... Como o senhor... Consegue?

- Tenho mais vivência e experiência com pessoas desde meus tempos de inclusão social. Hahaha! Eu estou velho, mas não estou nessa condição há séculos. – O homem possuía uma serenidade notável, não gaguejou ou pigarreou e ainda tinha dentes! Francis não sabia o que dizer a ele. Por medo de ser truque de um ladrão ou porque a inteligência do “excluído” era intimidadora.

- O jovem permite que eu leia o que escreveu para sua amada? – A frase apagou as suspeitas de Francis de o sujeito ter más intenções, a não ser que fosse um contratado de Ringo para... Não, não é para tanto. O rapaz achou o papel e entregou ao mendigo curioso.

Involuntariamente, Francis perdera os ouvidos quando olhou passando na calçada Sally e Ringo de mãos dadas. Ele ficou doido no ato. Assim correu de encontro ao casal coberto de raiva e de obstáculos: Eles já estavam bem distantes, não adiantando quase morrer atropelado atravessando a rua, mas os gritos que dera fizeram com que Ringo olhasse para trás e soltasse uma frase de desdém que Francis leu pelos lábios: “Você só perde, seu nerd”. O garoto retornou arrasado para a praça, e o morador de rua ficara parado ali mesmo com o papel na mão e a sentença pronta:
- Você escreve mal – O mendigo não aliviou, embora se dirigindo a uma cara de tacho – Talvez eu não entenda por que a mocinha não gosta de você, mas sei que com isto nada irá mudar.

- Minha mãe está certa... Ela está com ele. A quem eu quero enganar? Ele é mais popular e é mais boa pinta que eu. – Ao invés de chorar, Francis sentou no banco e falava bem lúcido, como se todo o mundo fizesse sentido para ele agora. Apenas o mendigo que o olhava preocupado:

- Ah, então você acha que o outro jovem é tudo isso mesmo? Porque não tenta namorá-lo também? Hahaha! Ouça rapaz, sabe qual é o segredo para uma pessoa se dar bem com outras?

O retorno silencioso previsível de Francis iniciou outra resposta:
- É dinheiro... Só isso. No tempo e no lugar em que vivemos, as pessoas se importam apenas com isso, não é mesmo? Quem está com sua amada agora tem boa condição de vida, suponho.

Francis assentiu com a cabeça. Disse que Mappuccino só situava-se num colégio público hoje porque fora indisciplinado demais nos grandes colégios onde estudou. O mendigo ouviu, entretanto, ficou absorto em um determinado pensamento que acompanhava a visão que sustentava a uma moça que andava muito apressada pela praça, segurando com força sua bolsa e olhando para os lados. Para chamar a atenção do homem, Francis disse o seu nome e perguntou o dele – Flood Fournier – e trabalhou como jardineiro grande parte da sua vida para a tradicional família Bolognazzi. Após 19 anos de serviços, o patriarca foi preso por ser envolvido com a máfia, e obviamente a casa jamais foi à mesma: A falecida senhora Bolognazzi vinha de uma família com várias posses também, permitindo que o único fruto do casal, a pequena München, fosse viver com os avós maternos sem prejuízos. O detalhe curioso da história é que no período entre os Bolognazzi perderem tudo e os tramites burocráticos de guarda da menina (o pai estava preso, não morto) passar para os pais de sua mãe, München morou nas ruas com Flood. Nunca pretendeu ficar num instituto de órfãos por um mínimo de tempo. Assim, depois da desapropriação da mansão Bolognazzi, viu Flood indo embora e resolveu o seguir ao invés de ficar com a governanta. Descobrindo que ele não tinha lugar nenhum para ir, resolveu dividir sua tristeza com ele. Dos nove aos doze anos, conheceu o mundo com a visão cheia de poeira urbana. Tudo isso foi a desculpa de Francis para dona Beulah quando chegou em casa às dezoito horas naquele dia... A mãe aceitou.
-... Bom dia, senhor Francis! Gostou tanto assim de falar com esse velho? – Surpreendeu-se Flood com a aproximação do estudante no despertar do dia seguinte.

- Tomei café e resolvi vir conversar já que não tenho nada para fazer... O senhor já comeu hoje? – Questionou uma pessoa preocupada. Francis via no mendigo alguém bem confiável.

- Sim! Não se preocupe, ontem guardei duas moedas das minhas perambulações por esmolas e já fiz minha média com a padaria... Literalmente. Hahaha! – Disse o contente indigente.

Goinita não conseguia assimilar como Fournier vivia rindo mesmo necessitando constantemente matar mais de um leão por dia. O que o abalava? Uma outra pergunta veio no lugar:
- Senhor Flood, München gostou de... Viver com o senhor como... Mendiga? – Francis imaginou a bomba que saiu da sua boca naquele momento. Essa pergunta iria desestabilizá-lo.

- Ela nem viveu muito... Mas o pouco que o fez, gostou. – emendou calmamente Flood.

- Perdão, como assim? – Francis sentou no chão sujo da praça e preparou-se para ouvir:

- (suspiro) Quando nos deparamos com a rua, tratei de pôr minhas economias para sustentar München. Não deixaria a garota passar fome, uma vez que eu era o empregado que ela mais gostava e também por ser eternamente grato a mãe dela pelo emprego, iria cuidar até que a pegassem. Os tempos iniciais foram difíceis, obviamente. Dormir ao relento ou nos abrigos é muito triste, mas todos se adaptam... Porém foi só aquecimento perto do que ocorreu mais tarde: Surgiu uma doença rendendo München. Rumamos para uma fila de hospital público... Uma semana depois, conseguimos que um médico nos visse graças à apresentação da certidão de nascimento dela, uma Bolognazzi acima de tudo e de todos. München chorou quando o médico diagnosticou o problema: Imfoma de Hogkind. Uma febre permanente que debilita a pessoa em um período de tempo, e num outro, some... E volta de surpresa com a mesma alta intensidade de outrora. Bem... Os remédios necessários foram o suficiente para a menina desenvolver algo pior que o tal Imfoma.

Fournier percebeu a dúvida que brotara do olhar de Francis. Ora, München não era viva?
- Foi desenvolvida a solidão urbana nela, Francis. – Flood deu um enorme suspiro, ia continuar – Eu gastei metade do dinheiro nos inúmeros remédios que München devia tomar para controlar o tempo de inatividade da febre, um trabalho muito rigoroso com horários, dosagens... Tratar enquanto criança é ruim. München queria que os pedestres nos ajudassem... Mas sentada com um cobertor na sarjeta, ninguém dava uma cédula: As pessoas olhavam apressadas para a menina, sentiam dó... Mas nem reparavam no riso dela caso jogassem uma moeda no copo. Ninguém tem tempo para nada com a doença da pressa, a epidemia do trabalho cego. O salário ganho é tão cego quanto o dia-a-dia. (suspiro) Então, quando as coisas tendiam a piorar para ela e para mim, a polícia chegou. Calma! Foi para nos levar ao juizado de menores onde o avô de München a aguardava. Nossa despedida foi lacrimosa, sim. Nós salvamos a vida um do outro... Somos grandes amigos, Francis. O chato é que não sou o melhor amigo dela... E nem o conheço. Ruby é um ser imaginário.

- Caramba! Muitos remédios para febres em crianças dão nisso... Alucinações! Como você diz que ela sofre de solidão urbana? Foi gerada uma hipocondria! – Francis sabia que deduziu muito bem. E a cara compreensiva de Fournier ratificou suas palavras, mas levantou a voz:

- Receio que não vai se importar caso eu lhe convide para ver München amanhã à noite. Certo, senhor Francis? – Supôs Flood, ciente que o garoto ficaria muito desestabilizado.

- Não acredito! Vocês ainda se falam?... Quero dizer, ela vem aqui ver o senhor? – A informação desconcertou Francis, uma moça rica abraçando um mendigo era inimaginável.

- Puxa, faz três anos que aconteceu. Ela é uma bela menina de quinze anos que até hoje insiste para que eu cuide das plantas de sua avó numa chácara, mas... Se você vier amanhã, saberá o porquê da minha preferência pelas ruas. – Flood praticamente intimou o jovem a ir à praça de novo.

Francis foi dormir ansioso demais. Não conseguia ver München e Flood juntos nem tentar pensar no que se tornou a vida deles ao irem morar na calçada. Que insano! Ele queria estar totalmente envolvido com a história de um indigente que qualquer pessoa era incapaz de olhar por um segundo! Agora Francis não queria admitir que, dias atrás, ele também era assim. Caiu à noite do dia seguinte, e Francis aprontou-se para ir a Jokebox. Cinco minutos, viu Flood surgindo com uma marmita na mão e o visual largado e cinza que se acostumara. Bastava aguardar o carro de München agora. De boca cheia, Flood avisou que o carro dela aproximava-se... O veículo parou do lado da avenida, e a dupla reparou na garota conversar com o motorista para depois ver o carro se afastar do local. München atravessou correndo e jogou-se em Flood num enorme abraço:
- FLOOD! VOCÊ VEM COMIGO HOJE! – A garota nem notou Francis ali, então Flood usou o argumento das apresentações para livrar a jovem do seu “cheiro natural urbano”.

- München, pegue. Achou que eu iria esquecer? – Flood sacou de um bolso três pílulas. Eram os remédios da febre. Francis não acreditou que o homem fizera aquilo... Dera medicamentos pesados a uma pessoa curada. Começou a balançar a cabeça negativamente no instante em que a adolescente foi a uma bica da praça e bebeu água para engolir as drágeas.

- RUBY! Que saudades eu tive de você... Um mês é muito sem te ver! Francis... Quero que conheça Ruby, a melhor companhia que alguém poderia ter. – München falava de olhos fechados - Ruby, vamos conversar sobre um jeito de levar Flood comigo! – A garota não parecia estar chapada, carregava uma felicidade indecifrável no rosto, sim. Mas era uma face inspiradora.

- Eu ainda tinha alguns comprimidos antes dela partir, ela estava quase curada quando nos despedimos... Sinceramente, só o mal da carência de amizade é o que preocupava a mim. Ela nunca fora a escola, Francis... Tinha uma professora particular. Não sabia o que era ter amigos... Bem, afinal de contas, quantos no nosso mundo sabem, não é mesmo? – Flood deu uma piscadinha ao garoto, admirando uma München feliz, deitada no banco, parecendo estar sonhando eternamente.

No dia seguinte, Francis soube da prisão do pai de Ringo devido a problemas com a justiça. E viu o “bambino popular” discutir ferozmente com Sally “sorriso metálico” no Joe’s. É... Antes acompanhado dos próprios sonhos do que sentir-se sozinho entre pessoas e interesses. A sociedade é um universo, assim nem todos ficam no mesmo mundo.
__________________________________________________________________
obs.: Em "München" leia "Monique" ;)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A VOLTA DO GARBAGE: Aprecie a arte do "lixo"





Não imaginei que o primeiro nome musical que eu iria escrever seria da segunda banda que eu mais gosto. Contudo acabei de ler uma notícia capaz de me inspirar o bastante para soltar elogios à ela sem hesitação: A primeira bomba sonora do blog chama-se GARBAGE.



http://www.dailyrecord.co.uk/entertainment/music/2009/07/03/garbage-could-be-about-to-reform-after-four-year-break-86908-21491250/

A página diz que eles retornarão após um hiato de quatro anos! Eu acredito nisso! Os quatro discos do Garbage jamais me fizeram virar a cara para a banda.

Um dos três grupos mais surpreendentes dos anos 90, o Garbage foi fundado no começo de 1994, por Steve Marker(guitarras/teclados/sintetizadores), Duke Erikson(guitarras/baixo/sintetizadores) e Butch Vig(bateria/samples/loops). Eles já eram três colegas produtores com um currículo honesto no rock alternativo norte-americano - Vig produzira os álbuns tidos como a "trindade sagrada" do gênero, falamos de Nevermind(1991) do Nirvana, o Dirty(1992) do Sonic Youth e o Siamese Dream(1993) dos Smashing Pumpkins - e desejavam montar um grupo, inspirado num álbum novo da antiga banda de Duke(Spooner), para aproveitarem o som das jams de alguns ensaios que faziam quando se encontravam. Muitos dos efeitos de estúdio e barulho que soltavam foi classificado como "lixo"(= Garbage) por um amigo da vizinhança de Butch, na cidade de Madison, Wisconsin. O projeto já tinha dado sinal de largada...













Bastando um vocalista para seguirem com a banda, Steve assistia a MTV num dia onde um clipe de um grupo escocês chamado Angelfish passara na programação. Ele adorou a voz feminina que derramava os versos de "Suffocate Me" e decidiu mostrar a Butch e Erikson aquela mulher ruiva de vocal poderoso(e forte sotaque). O agente deles se prontificou a convocar a banda para conhecê-los nos EUA. A mulher chamava-se Shirley Ann Manson.

Manson e o Angelfish vieram fazer uma pequena turnê no território ianque, e assim que a moça foi encontrar quem eram os tais produtores que pediram para vê-la, foi mostrada para ela o encarte de Nevermind com os créditos: Um deles era Butch Vig... Era algo sério.








Durante os ensaios e shows iniciais, Shirley foi pegando uma intimidade e um entrosamento com o projeto tamanho que durante as gravações efetivas do primeiro álbum, ela conseguiu liberdade para trabalhar nas letras das canções - regalia que jamais teve nas duas bandas que tivera na Escócia: o Angelfish e o Goodbye Mr. Mackenzie(anos 80, ela tocava teclado) - assim, o estilo Garbage de fazer música se construiu, como mostrado nas primeiras demos produzidas de "Queer" e o primeiro sucesso da banda "Vow":


Vídeoclipe de "Vow":
http://www.youtube.com/watch?v=Rb7fLA5ccWg







"Only Happy When It Rains" ao vivo:


http://www.youtube.com/watch?v=nzzf44HkFw8


Em 1995, quando "Vow" começou a pipocar em algumas rádios dos EUA, a crítica especializada desceu os elogios na canção(refrão perfeito, pegada pop e blábláblá), permitindo que o Garbage, junto com a gravadora que os "acolheu", fizesse até uma caixinha especial de metal para o CD single da faixa! O disco debut homônimo(Garbage) foi lançado semanas depois e vendeu mais de 2 milhões de cópias nos EUA e mais três milhões ao redor do mundo. As misturas pegajosas de efeitos eletrônicos com ácidas("As Heaven Is Wide"), as guitarras distorcidas("Supervixen") e a voz obscura e sexy de Manson("A Stroke Of Luck"/"Milk") fizeram a festa com a juventude que encontrava-se carente após o declínio do movimento grunge. Conclusão? Esse debut é tratado como uma jóia da década de 90. Os hits da parada billboard "Stupid Girl" e "Only Happy When It Rains" possuem clipes clássicos, a MTV que o diga. Chegando 1996, a canção lado B "#1 Crush" foi usada na trilha sonora do filme Romeu e Julieta(aquele que tem o DiCaprio) e alcançou o primeiro lugar na parada rock dos EUA!








Após uma grande turnê, a banda tirou umas férias para no fim de 1997, voltar ao estúdio e compôr o próximo álbum. Não temendo a "síndrome do segundo disco", eles partiram para as experimentações outraz vez e fizeram um disco tão melódico quanto harmonioso entre os estilos musicais clássicos e os novos recursos da música techno, resultando no pulsante Version 2.0, incrivelmente muito mais ativo que o primeiro. "Push It", "I'm Think I'm Paranoid" e "When I Grow Up" foram hits principalmente nas pistas de dança e - com o perdão da piada sem graça - O vídeoclipe da canção semi-retrô "Special" provou que o Garbage era mesmo um grupo especial. Outras highlights do disco são a balada "Medication", "Sleep Together", "The Trick Is To Keep Breathing" e o encerramento "You Look So Fine"(canção difícil de não gostar), após a turnê, as platinas do Version 2.0 e a gravação do tema do filme 007 - The World is Not Enough, algumas brigas internas começavam a atrapalhar...

"You Look So Fine" ao vivo no palco MuchMusic:
http://www.youtube.com/watch?v=kiv30spj1uo

"The Trick Is To Keep Breathing" versão acústica:
http://www.youtube.com/watch?v=h6ij2iXrkXc


Videoclipe de "Special":
http://www.youtube.com/watch?v=DWVvQ2cqNR0

O terceiro álbum só veio em 2001, BeautifulGarbage foi sem dúvida o trabalho mais pop do quarteto, e também onde a versatilidade dos vocais de Shirley foi o elemento surpresa. O álbum recebeu críticas muito mornas comparado aos dois primeiros e não teve também a mesma boa recepção comercial... Mas conseguiu emplacar dois hits nas paradas: "Cherry Lips"(talvez a música mais conhecida da banda mundialmente) e "Shut Your Mouth". Outro destaque fica por conta das melodia radiofônica de "Drive You Home", o refrão de "Breaking Up The Girl" e "Parade", com uma excelente letra e um refrão marcante, ela é figurinha carimbada entre as canções favoritas dos fãs.

Garbage em 2001...







Videoclipe de "Cherry Lips":
http://www.youtube.com/watch?v=P64tGhSBEUM






Videoclipe de "Breaking Up The Girl":
http://www.youtube.com/watch?v=VmcMsRyOKlY

Bleed Like Me foi concebido no meio de muita turbulência no estúdio, Butch e Shirley(com sério problema nas cordas vocais) não vinham se "bicando" há algum tempo, Duke também tinha suas reservas quanto a importância de Shirley ofuscar a identidade/criatividade da banda... Mas o conflito com Vig foi tão visível que o quarto álbum teve a colaboração de Dave Grohl, Matt Walker e Matt Chamberlin na bateria em quase todo o tracklist(em BeautifulGarbage, Chamberlin assumira as baquetas em duas faixas). Mas em abril de 2005, o disco saiu e a canção "Why Do You Love Me?" marcou um retorno triunfal do Garbage após três anos sem notícias. Bleed Like Me atingiu o quarto lugar de vendagens nos EUA em seu lançamento e trouxe o rock mais vigoroso que o Garbage já tinha feito até então. Outro hit do álbum foi a faixa-título e a canção "Run Baby Run". Com letras mais profundas do que o de costume(It's All Over But the Crying"/"Happy Home"), Shirley Manson(cujo charme como frontwoman tornou-se inegável) escreveu até uma que cutucava a política: "Metal Heart".









... E em 2005.

Videoclipe de "Bleed Like Me":
http://www.youtube.com/watch?v=690k85FQNXs






"Why Do You Love Me?" ao vivo:
http://www.youtube.com/watch?v=5sHvEpcR1l0


Dois anos mais tarde, Shirley anuncia a produção do seu álbum solo(com uma gravadora dando aval ou não) e assina um contrato para atuar na série Terminator: The Sarah Connor Chronicles(entrando na 2ª temporada, sua personagem é Catherine Weaver) enquanto a coletânea ABSOLUTE GARBAGE chega às lojas com um tema inédito: "Tell Me Where It Hurts". Fim da banda? Todo o público(e parte da crítica) temiam uma resposta positiva para a pergunta, até que a notícia acima elimina as premissas ruins e (me) faz querer ouvir de novo, os quatro álbuns, nos próximos dias para tentar imaginar que tipo de som a banda vai aprontar... Se bem que a graça do Garbage, além da beleza natural fascinante de Shirley Manson, é ser imprevisível.





Da esquerda para a direita: Duke Erikson, Steve Marker, Butch Vig e Shirley Manson

quarta-feira, 8 de julho de 2009

[CONTO/FICÇÃO] "TRY, TRY, TRY" = ENSAIANDO O COMEÇO:


"TRY, TRY, TRY" = ENSAIANDO O COMEÇO:



Afinal, quem ainda não havia ouvido alguma música da cantora mais promissora da província de Garbania? Em todo o país não se falava em outra coisa a não ser Jolene Soleil, de 19 anos, que emplacara três hits consecutivos nas rádios em Fellsbargo de norte a sul. Aqueles refrões “chiclete” e as coreografias chamativas seriam a alegria de todo aquele povo sofrido do interior, o berço de Jolene, se não fossem duas figurinhas conhecidas na região... Famosas pelo ócio e o mau humor. Eram os irmãos Mojo e Chi Sengupta. Cujo cotidiano resumia-se em uma palavra: Pesca.
- Ei, Mojo! Vamos lá! Acorde! Já são 3 da tarde! Só peguei quatro lambaris!

- Pára com isso, moleque... Sem pressa.

Levantando-se lentamente, o marmanjo lavou o rosto e pôs uma camisa. Não queria irritar mais o irmão caçula por um motivo banal, porque seus ouvidos iriam doer muito além da conta diária... Prova disso é o momento em que Mojo e Chi saíram do casebre e encararam a rua:
- “E lá vai o cara de nó!”

- “Ei! Vai fazer o quê com toda essa disposição? Caçar vitórias-régias? Cuidado hein!”

Chi não agüentava as zombarias que os comerciantes e os vizinhos fofoqueiros faziam com a imagem de seu irmão, talvez fosse por isso que também era meio ranzinza já aos 13 anos. Mas Mojo não estava muito aí para as pessoas que o cercavam. Como se estivesse conformado com a sua situação miserável de vida: Ele e seu irmão tinham que pegar peixes para sobreviverem. Após uma boa pescaria, eles traziam o velho freezer (o bem material mais caro que possuíam) para fora de casa e vendiam nos dias de sábado – com alguma sorte, a feira da cidade era na rua onde moravam. E, com mais sorte ainda, aquele dia era uma sexta-feira:
- Bem... Ao menos a piada do tio ali com vitórias-régias foi boa. – disse Mojo, para quebrar a monotonia de andar e respirar ao mesmo tempo.

- Prepare o molinete, Mojo! A correnteza vai nos ajudar! – Chi partiu correndo em direção ao rio, aprontando seus equipamentos.

- Então não são necessárias as varas... Tenha calma, guri.

Mojo abriu o bolsão que carregava e puxou uma enorme rede de pesca. Logicamente, por ser mais forte, trazia mais apetrechos para “diversão aquática” do que Chi. Evitava usar a rede, pois esporadicamente ela prendia em algum lixo sob a superfície do rio e rasgava-se. Por isso, Mojo improvisava sempre umas cinco varas a fim de melhor aproveitamento. Agora sim, eles conseguiram capturar dez peixes numa jogada, voltando muito satisfeitos com o próprio feito:
- Podemos pensar em comprar já o seu presente de catorze anos! – gritou Mojo, enquanto Chi ia correndo animado na frente puxando a rede com os peixes.

- Esqueceu que estamos em fevereiro? Eu farei catorze anos em setembro!

- Lembre-se que você é pobre, guri! – replicou Mojo, que mesmo sério, fez o irmão rir.

No caminho para casa, os garotos estavam bem alegres até que viram um avião sobrevoar suas cabeças. Eles não gostavam daquelas máquinas voadoras e rápidas, Mojo disse:

- Em abril vou tentar me alistar na Aeronáutica de novo. Tenho vinte anos e as chances são mil.

O pequeno Sengupta apenas olhou e reprovou a declaração com a cabeça. E marcou em sua agenda mental de fazer uma oração antes de dormir, agradecendo a grande pesca que fizeram.
Sábado amanheceu e os garotos anteciparam-se ao Sol: Haviam acordado às seis da manhã para limpar a varanda e trazer o freezer para fora de casa. Chi tinha visto no noticiário na noite anterior que o forte calor da semana iria provocar um domingo de chuvas na região. Torcia para isso acontecer mesmo: As pessoas ficariam em casa reunindo família e amigos... Comendo peixe! A venda no dia foi muito proveitosa, todas as 26 peças saíram do gelo. Só o noticiário de sábado entristeceu um pouco Chi: Parece que a chuva leve que caiu nos arredores da cidade no fim daquela tarde foi demais para um barranco que já ameaçava a estrada FB-084. Um grande ônibus desviou mal, caiu e matou quatro pessoas. O menino não viu a notícia completa, pois adormeceu...
Mojo acordou seu irmão com vontade no dia seguinte. Pois Chi tinha uma “missão” a cumprir após se despedir da sua preguiça dominical:
- Tem que ir entregar as marmitas dos caras que ficarão no posto da estrada 93, a dona daquele boteco da praça vai dar uma boa gratificação! – Mojo explicou, e em nenhum momento deixou de passar o seu total desinteresse com o descanso do seu irmão ou com a fome alheia. Apenas parou na porta do quartinho, esperando a resposta positiva de Chi.

O menino pegou o pacote com as marmitas, colocou atrás das costas e partiu sob o céu nublado. A rota 93 ficava nos limites da cidade e o posto de gasolina, precisamente, no meio do nada. Aproximando-se do lugar, Chi não avistou nada muito diferente: Uma pena, nas poucas vezes que foi até ali era o máximo de distância que ele havia se afastado do lar. Preocupou-se em encontrar o marido da dona do botequim depressa para entregar e retornar antes que começasse a chover. Quando o achou, iniciou-se aquela velha conversa com cumprimentos de praxe.
- Espere aqui, Chi. Vou pegar um troco para você. Muito obrigado pelo serviço.

Enquanto aguardava a gratidão do homem, Chi viu uma mulher muito bonita aproximando-se do balcão da loja de conveniência do posto. Os óculos escuros combinados com um casaco de couro e os cabelos lambidos denunciavam que ela era alguém “importante”. Ele notou que o balcão estava sem ninguém no momento (“o cara deve ter ido receber a quentinha dele”). Por isso, foi prestar sua atenção a moça avisando-a do pormenor:
- Bom dia, moça. O homem que fica aqui foi pegar uma coisa e já volta e... O que é aquilo? – O menino apontou para o ônibus enorme e colorido atrás da mulher. Era muito chamativo.

- Não tenho tempo para conversa fiada. Cadê o cara que atende? Jolene Soleil tem sede!

- Jolene?! Está falando da Jole... – exclamou Chi, com muita surpresa.

- Droga, abri a boca... Sim menino, Jolene Soleil está ali naquele ônibus, está cansada, triste e precisa de refrigerante! Temos que chegar à cidade Laika até as duas horas da tarde! Iremos almoçar, fazer outras tarefas que não estavam no script... Ó Deus!

A moça não viu Chi voar até a máquina de refrigerante do posto e trazer uma latinha. Ela falava nervosa ao celular e fez um sinal direto, um gesto indicando “Vai lá, bata na porta e entregue a lata ao motorista!”. Ele caminhou até o carro muito nervoso. Chi iria ver a popstar?
- Com licença, senhor motorista? Vim entregar isso a Jolene, porque a moça ali...

- NÃO ACREDITO! CHI! É VOCÊ!? – O espanto de Chi foi visível. Ouvira uma voz conhecida. Ele virou para trás e só pôde ver dois braços cheios de pulseiras o envolverem:

- Jo... Jolene! É você mesmo! O Mojo vai gostar de saber que você está aqui! – comunicou o emocionado Chi. Parecia que Jolene ficara apreensiva ao ouvir o nome de Mojo:

- Desculpe-me, mas sei que não vai... Desculpe também por fazer tanto tempo que não vou à Nanakettles também. Devo uma visita ao pessoal da cidade, e...

- Muito bem, partindo! Obrigado, amiguinho. Temos que chegar a Laika! Vai dar tudo certo, Len! – A moça de casaco entrou no ônibus batendo palmas discretamente, olhou para Chi com se fosse mais um fã e simulou empurrar Jolene para o interior do veículo.

- Calma, Isobel... Chi, essa é a minha amiga Isobel; ela é meu braço-direito, organiza meu dia-a-dia artístico. Prometo que irei lá o mais rápido possível, diga ao Mojo que quero vê-lo, e... Até logo, Chi! – e o beijou na bochecha. Isobel deu um “tchauzinho” a fim de o garoto sair logo.

Após voltar para casa, logicamente o irmão caçula de Mojo informou o ocorrido a ele:
- Mano, eu vi a Jolene! Ela está indo fazer show em Laika! Ela voltará aqui para te ver em breve, está com saudades de Nanakettles!

Deitado com o seu violão velho olhando para cima, Mojo apenas virou as córneas:
- E daí? Se ela pretende fazer show aqui, eu me mando para longe! Ninguém merece aquilo que ela canta, é uma vergonha... Nem para a cultura nacional, é para ela mesma.

Mojo meteu a mão debaixo do sofá encardido e tirou um pedaço de papel amarelado, havia diversas (e embaralhadas) anotações com caneta e lápis. Pela letra, se concluía que o escritor era uma menina.
- Avise-me quando voltar a escrever coisas como essas. Está certo, guri? - Mojo botou o violão no chão, jogou o corpo para a direita e fechou os olhos. Chi leu belos versos naquele papel.

Depois da fraca pesca da manhã de segunda-feira, “cara de nó” vinha voltando cabisbaixo – Chi estava na escola e só saía meio-dia e meia – mas mudou de semblante quando avistou um ônibus colorido em frente a sua casa. E surgia ao longe uma aglomeração correndo e os corpos de Chi e Jolene vinham na dianteira de todos, em disparada na direção do jovem pescador.
- MOJO! QUE BOM TE VER!... ENTRE RÁPIDO NA SUA CASA!

Por puro susto ou pela intensidade da voz, Mojo sentiu-se obrigado a acelerar e entrar em casa. Conseguiu isso um segundo antes dos fãs cidadãos de Nanakettles alcançarem a cantora.
- Que bom te ver, Mojo! – Soleil deu um abraço no rapaz e não obteve a retribuição esperada – O que há com você, por que essa cara de poucos amigos? Eu voltei!... Como foi a pesca?

- Não é da sua conta, é? – falou um Mojo bem irritado – É melhor você tirar essa droga de ônibus da frente da nossa maloca! Está atrapalhando o nosso Sol, lembra dele? O Sol que sabia de todas as nossas conversas, nossas caças, nossas canções... Ele continua esquentando a sua testa ou a maquiagem não deixa?

O irmão mais velho de Chi desejava cuspir o que estava guardado para Jolene, uma cantora pop adolescente, que declarava nas entrevistas os seus sonhos uma Fellsbargo sem pobreza e sem corrupção, mas a música que mostrava às pessoas não provava seus ideais; seus refrões ensinavam passos de dança ou falavam mal de um homem inexistente em sua vida (uma vez que Jolene alegava ser solteira). De repente, do portão sobressaiu-se no meio do povo uma voz com megafone:
- SOU EU, ISOBEL! DESEJO ENTRAR NESSA... RESIDÊNCIA! POR FAVOR!...

- Chi, vai lá abrir a porta. – pediu Mojo, antes que Jolene explicasse quem era a mulher.

Uma esbaforida Isobel veio até Jolene na sala da casa, Chi olhava ao redor e lamentava por estar um tanto sujo o ambiente. Olhou para Mojo e virou-se direto para a estrela:
- Estamos com sorte, moça... A prefeitura de Laika irá ceder o estádio da cidade para o seu show... A gravadora mandará o equipamento completo. Não irá acontecer mais o desastre de ontem. Nada de violões, nada de novidades. Teremos o bom Deus no céu e ProTools no palco de auxílio. Você é o que o seu público vê. E que loucura estes fãs daqui!

O jeito que os irmãos Sengupta se olharam indicou a Isobel que o assunto estava restrito:
- Anteontem... O ônibus que levava nossos equipamentos capotou em um acidente. O show morreu como nossos roadies. Jolene fecharia o evento de aniversário da cidade de Laika como a última atração, mas não conseguimos providenciar instrumentos e figurino de bailarinos de novo. Resultado: Jolene decidiu pegar um violão elétrico e ir ao palco para comunicar que faria um acústico especial. Ninguém sabia que ela tocava violão, ou mesmo soletrava "acordes"... Era novidade para ela própria também.

- Deixe-me adivinhar... Ela acabou com as músicas com total descoordenação motora. – Mojo deu um sorrisinho sarcástico. – Você nunca soube tocar e cantar ao mesmo tempo, Jolene.

- Eu tentei tocar! E olha aí... A criança que sonha em voar porque odeia a terra! Mantenha os pés no chão, garoto-pássaro! Não foi areia movediça que matou o tio Babun! – retorquiu Jolene.

Assim, gerou-se um momento de extrema tensão na salinha. Quebrado em segundos pela pergunta não-providencial de Isobel:
- Vocês dois... São namorados? – A interrogação veio com uma inocência inacreditável.

- Já fomos mais do que amigos há cinco atrás, mas... – Mojo era estupidamente sincero.

- Ótimo! É isso que você precisa, Len! – Isobel pegou o braço de Mojo e o puxou – Você vem comigo e vamos contatar a imprensa para informar sobre o namorado da estrela Jolene! Isso será o suficiente para o público esquecer as notícias vergonhosas de ontem. E você moça, pode ficar de folga hoje... Amanhã irá acordar cedo e ensaiar com os bailarinos para o show de sábado.

Mojo obedeceu bem relaxado a idéia de Isobel e saiu dali com ela... Jolene ficou atordoada com tudo aquilo e encarou Chi por um tempo até que a alegria bateu a porta:
- Vamos pescar e celebrar, Chi! – declarou Soleil – Eu voltei para casa!

Chi consentiu e ambos deram a volta pela porta dos fundos da casa. Os fãs não iriam ver Jolene se dependesse dos atalhos do menino para o rio. Às margens do lugar, os dois conversaram, subiram nas árvores, trocaram histórias... Pescar nunca foi o forte deles mesmo. Sete horas depois estavam eles de volta (Isobel tirou o ônibus dali, e o povo dispersou-se). E a agente e o “namorado” de Soleil encontravam-se sentados no sofá vendo televisão, Isobel parecia muito aborrecida.
- Divertiu-se, Len?... Tomara que sim. Sua carreira depois de hoje não será a mesma...

- Antes quero falar algo importante para você, Isobel. O próximo show será o último da minha turnê. Quero entrar em estúdio mês que vem para gravar um disco com músicas próprias.

- Então Len... É mesmo o fim da sua carreira. Esse rapaz aqui na entrevista que deu aos repórteres falou horas como vocês três viviam com o velho que os adotou: Brincavam, se sujavam, zombavam os famosos... Assim, minha idéia foi péssima. A gravadora chegou às vias com você!

Isobel ficou muito surpresa com a jovem, porém Chi e Mojo a olharam com orgulho.
- Eu me vendi muito fácil ao que a gravadora queria. Um rosto bonito, desenvoltura e essas coisas... Fiquei vulnerável depois do atropelamento do Tio Babun, fugi daqui e não vi como viver com dois irmãos que não eram parentes meus... Voltarei a escrever, tenho capacidade para tentar mudar a situação daqui. Entendo se não me quiserem mais. Mojo, Chi e eu somos uma banda, certo?

- Escreveremos canções com sentido, Len, pois não estamos sós. Como dizia o tio: A missão de quem quer levar cultura ao povo é deixá-lo forte de espírito. A partir de hoje, Nanakettles voltará a escutar outras melodias e novas letras. E um dia, a gente alcança nosso lugar nas estrelas.



_________________________________________________________________
Até que a narração é legal, vai... :p

Que tal um "oi" para começar, Iury?

Lugar criado para acomodar minha imaginação - ou a grande parte dela que me incomoda - por não poder dividi-la com mais gente. Minhas idéias estarão dispostas aqui em forma de contos fictícios, histórias reais minhas, queixas e elogios a uma atitude ou virtude alheia e claro, muita música. Tudo aqui será envolvido pelas canções das bandas e artistas que eu mais admiro.

Livros? Claro que gosto bastante, tanto que me considero um escritor, mas mexer com literatura é algo muito mais frágil do que falar de composições musicais. A "pena" de um determinado autor(um exemplo: Oscar Wilde) pode não significar nada para o amigo(a) leitor(a) e vice-versa... Falando de discos, é possível você argumentar sobre a qualidade do artista baseado em letra, métrica, melodia, originalidade, vocal...Já os filmes pretendo me dedicar um tempo para assistir alguns que me intrigam com um olho crítico (e o outro clínico... Que piada sem graça). Se der frutos, escreverei sobre cinema em breve.

Assim, postarei o conto fictício inaugural do blog. Foi fundado na canção "Try, Try, Try", composta pela única banda que eu idolatrei na vida: Os Smashing Pumpkins. Sendo mais preciso, Canção composta pelo líder do grupo Billy Corgan(ironicamente, o motivo da minha idolatria esfriar tanto nos últimos tempos...)
Dissertarei sobre a história desta banda e muitas outras logo mais. Fiquem ligados e sejam bem-vindos! ^^